quarta-feira, 6 de junho de 2007

LINGUAGEM POLITICAMENTE CORRETA, REALIDADE POSTIÇA E NEUROSE

Conforme afirma o filósofo Olavo de Carvalho, a mente humana não raciocina através de dados sensíveis, mas através de símbolos, especialmente os símbolos lingüísticos. Conquanto uma linguagem evolua naturalmente para a melhor correspondência possível com a realidade, meios artificiais interferentes podem alterar radicalmente sua capacidade representativa, criando uma realidade postiça, só existente no plano da linguagem. A partir desse ponto, o pensamento e o raciocínio ficam seriamente comprometidos.
Entre os artificialismos deturpadores da relação linguagem-realidade está o modismo politicamente correto.
Iniciado nos Estados Unidos, o modismo politicamente correto tomou forma e foi exportado para o mundo.
O distanciamento da realidade, sua truncagem e escotomas produzidos pela linguagem politicamente correta deriva para o ridículo, o humorístico e o autoritário toda a busca de conhecer e compreender a realidade. A realidade se torna inapreensível enquanto a linguagem vai-lhe tomando o lugar, até que, ao final, não sobra mais realidade para ser conhecida, somente uma linguagem para ser exercitada.
Alguns exemplos vêm a calhar: o cachaceiro se torna dependente de álcool, o assassino se torna condenado por homicídio, o mendigo se torna morador de rua, o impotente sexual se torna portador de disfunção erétil e, pasmem, anão se torna portador de nanismo. É tal o esforço para desidratar a palavra de seu referente concreto, elaborado através dos anos, pelos embates com a realidade sensível e filtragens culturais que, ao final, parecem, as palavras, entidades ideais saídas de um reino ainda inexplorado.
Embora tendo sido forjada pelo movimento esquerdista com declarado objetivo político, a linguagem politicamente correta somente se sustenta porque encontra eco em alguma necessidade psicológica ainda não devidamente esclarecida. Vou identificar essa necessidade naquilo que Freud chamou negação. A negação (denegação) é um dos mecanismos de defesa do ego, auxiliar da repressão, desta se distinguido pelo maior acesso do sentimento (ou pensamento ou desejo) reprimido à consciência. Enquanto na repressão o desejo tem seu acesso totalmente bloqueado à consciência, na negação o desejo já se faz percebido pela consciência, sendo, contudo imediatamente recusado por causar, ainda, grande sofrimento à pessoa.
Assim, por exemplo, uma pessoa que é realmente filha de uma puta, pode negar a relação para não sofrer uma tamanha dor moral (ser filho de uma puta deve, realmente, ser muito difícil de aceitar). Mas como negar um fato que é público e notório? Aí entra a linguagem politicamente correta. Muda-se de “filho da puta” para “filho de uma profissional do sexo”. Não podendo negar o fato, muda-se o nome do fato. Dessa forma, o sujeito não precisa tomar consciência plena da repugnância que tem por sua condição.
O modelo explicativo serve também para toda a variedade de substituições da linguagem politicamente correta. Um anão que não aceita a palavra anão, na verdade não aceita é sua condição de anão. Se nega e projeta no “outro” a hostilidade que é contra si.
A linguagem politicamente correta gera, em conclusão, uma falsa realidade, induzindo à neurose, vez que evita o doloroso, mas saudável confronto com as próprias limitações e com a realidade.
E.M.

Um comentário:

Ismael Alexandrino disse...

Senhor Edson, cheguei até aqui por indicação da Janine, sua filha.
Sou amigo dela, mas não sei se o senhor lembra de mim, pois saí de Goiânia (para Recife) quando comecei a faculdade de medicina, há alguns anos. Se DEUS quiser, dentro em breve voltarei para minha terrinha.

Foi-me uma grata satisfação lê-lo, voltarei mais vezes.

Um abração, Ismael.