quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

O ABORTO E A MÍDIA BACANA

O roqueiro Tony Bellotto (Titãs), que tem um blog hospedado no site da VEJA, deu agora de se apresentar como paladino na defesa da luta secular que a razão trava contra as trevas da religião. Religião cristã, bem entendido. Seu foco agora é elogiar as iniciativas governamentais de abrir a discussão sobre a legalização do aborto.
É curioso como essas pessoas que se dizem iluministas, atéias, céticas, humanistas louvam as religiões orientais, especialmente o budismo, e atacam o cristianismo. Afinal seria o cristianismo, mesmo, as trevas que impedem que o mundo se torne o paraíso?
Algumas coisas precisam ser esclarecidas ou antes lembradas sobre a força e os efeitos dos princípios cristãos na construção de toda a civilização ocidental.
Será que os detratores do cristianismo sabem que foi o ensinamento do Cristo que deu origem à concepção de democracia e igualdade de direitos para todos? Vejamos. Entre os gregos já havia se estabelecido o conceito de democracia, mas era parcial, distribuído entre castas, as mais inferiores eram submetidas e até escravizadas, enfim, era uma cidadania discricionária. Entre os judeus já havia também a idéia salvífica de que Deus era o pai de todos e todos, portanto, seriam irmãos e, em conseqüência, iguais em direito. Mas era um privilégio para uma única nação: a nação dos hebreus. O resto da humanidade, portanto, já de saída, estava excluída da proteção divina, inferiores, de resto. Entre os praticantes do hinduísmo, havia e há mais de 700 castas, as quais têm direitos diferenciados.

O CRISTIANISMO É PAI ESPIRITUAL DA DEMOCRACIA
Pois bem, é a idéia fundadora do cristianismo de que Deus é o pai supremo de todos e a todos ama, tendo, a cada um, dado uma alma única e irrepetível, que faz de toda vida humana um ente sagrado, indispensável e potencialmente salva. É essa idéia de ser respeitado exclusivamente por ser humano e não porque tenha títulos, dinheiro ou qualquer atributo que está na base das democracias representativas ocidentais, sob o amparo de um estado de direito.
A ignorância é um campo curioso. Será que esses críticos sabem que, antes do advento do cristianismo, as crianças com algum tipo de deficiência eram abandonadas, e deixadas para morrer nas matas e pântanos? Quando hoje se percebe que todo o esforço para dotar os deficientes de todas as condições necessárias para o alcance de seu potencial (já há portadores de síndrome de Down com curso superior) é fruto de séculos da persistência cristã de que toda vida vale a pena (dada que foi pelo Criador) e deve receber todo o apoio para seu pleno desenvolvimento. Basta um olhar para as nações não-cristãs, como a China, para perceber seu completo desprezo pelas crianças deficientes. Também em culturas primitivas, ainda não cristianizadas, como certos silvícolas, é comum a prática da eugenia natura. O que é isso? É a prática da eliminação de crianças “defeituosas”.
A ignorância é um campo confuso. Será que esses ativistas da descrença já perceberam a flagrante diferença da situação da mulher nas nações cristãs e não-cristãs? Nestas, a mulher é completamente submetida, sem individualidade e sem autonomia para decidir sequer sua própria vida! Vejam as nações muçulmanas, vejam as nações orientais e comparem a liberdade e penetração que a mulher tem nos círculos do poder familiar, comunitário e político. Pois bem: antes do advento do cristianismo, era direito do homem, em praticamente todas as culturas, ter várias esposas. E estas eram quase suas servas, em tudo obedecendo ao “amado Senhor”. Recomendo assistirem ao maravilhoso filme “Lanternas Vermelhas”,1991, direção de
Yimou Zhang. Ao invés de se perguntar o porquê dessa liberdade da mulher nas nações cristãs, esses ativistas preferem engrossar movimentos feministas contra, pasmem, o cristianismo.

O ABORTO NÃO PODE SER ADMITIDO, POIS FERE DE MORTE O CRISTIANISMO
É compreensível que uma pessoa assustada e desesperada com uma gravidez, que sinta incapaz de sustentar, venha a cometer o aborto. Não se vai aqui atirar a pedra em quem comete esse pecado em momento de grande tormento emocional.
Mas é repugnante (existe outra palavra?) que pessoas, que não estejam vivendo a experiência da gravidez indesejada e emocionalmente transtornadas, na tranqüilidade, serenidade e conforto de seus lares pesem, meçam e articulem campanhas pró aborto. Como é que se pode entender que uma pessoa abandone seus afazeres para engrossar passeatas pelo aborto? Que mente doentia é capaz de se engajar em campanha pelo assassinato do mais indefeso? E ainda posar de amante da justiça e da razão?
Para o cristianismo, como foi acima citado, toda vida é fundamental. A vida é a pneuma divinae, o sopro de Deus, doação do Senhor. Atacá-la, mesmo em seus momentos iniciais, é matar a obra divina e é por isso que o cristão deve se opor inteiramente ao aborto, pena de morte, eutanásia etc.
De resto, seria mesmo o fim da civilização ocidental. Sem os princípios cristãos, seríamos facilmente dominados por ideologias extremistas (como o comunismo, por exemplo) ou religiões mais impositivas, como o islamismo. Uma coisa é certa, um mundo de mais liberdade e respeito pela pessoa humana decididamente não teríamos.
Por que falo de Tony Bellotto? É porque ele não é um. É uma legião de comunicadores, roqueiros, artistas, vanguardistas, contestadores, todos “gente bacana”, que têm enorme influência sobre os jovens. Por trás de seu anseio por mais justiça e liberdade, há uma brutal ignorância das bases históricas/espirituais que garantem o direito à expressão que estão exercendo quando expressam seu “grito libertário”. São garotos mimados a xingar a mãe quando não recebem seu pratinho diário de sucrilhos!

Edson Moreira

(para comentar clique abaixo)

2 comentários:

edsonmoreira disse...

Caro Professor Edson,

Concordo em parte com o artigo, mas em algumas coisas a igreja está errada, como proibir a sexualidade antes do casamento e a proibição do divórcio. As pessoas não devem se casar sem conhecer o parceiro, inclusive sexualmente, e como permanecer em um casamento infeliz?
De toda forma, parabéns pelo artigo

Seap

Anônimo disse...

É mesmo muito importante ressaltar a importância dos valores cristãos para a construção das bases da civilização ocidental, com todo o corolário do respeito ao ser-humano, não da espécie, mas de cada um de seus seres - o que possibilitou o individualismo. No entanto, deve-se atentar ao triste fato de que as igrejas cristãs, por mais que sejam valorosas fontes de divulgação dos valores cristãos, nem sempre estão corretas com relação à interpretação deles - quase sempre estão, apenas isso. Daí a responsabilidade, assim como a dignidade, também ser algo individual dentro da doutrina cristã. Mas no caso do aborto, a Igreja Católica, a meu ver, está com toda a razão. Outro ponto a se ressaltar é o quão preocupante é o fato de como as pessoas são influenciadas por essas celebridades sem nenhum gabarito para tomarem partido em assuntos tão delicados. É aviltante essas celebridades, como o tal Tony Belloto, usarem sua popularidade para falarem coisas tão estúpidas e se acharem inteligentes e engajados por tal merda. É tão chique vomitar esses lugares-comuns dos bicho-grilos narco-hippie-marxistas brasileiros que eles não resistem o status barato de papo-cabeça que isso proporciona para esses cabeças-ocas.