Mas quando se afirma a igualdade entre os seres humanos, de quê estamos falando mesmo? E, seja lá o que for essa igualdade, seria ela compatível com a liberdade? Voltemos um pouco na história para entender o estado da questão.
Se formos buscar as origens da idéia de igualdade como guia-mestra da justiça, chegaremos ao próprio Cristo e, antes d`Ele, aos gregos (adiante se verá em que medida essa afirmação é confirmada pelos fatos). Modernamente, esse marco foi estabelecido pela revolução francessa, com seu lema "Liberté, Égalité, Fraternité”, lema este logo depois adotado pela Maçonaria francesa e difundido por todo o globo, acabando por se tornar seu lema universal. Aqui há uma correção a ser feita sobre o que foi dito. Na verdade, o lema original da revolução francesa era "liberté, egalité ou la mort". Somente com a chamada 2ª República, em 1848, (quase sessenta anos após a eclosão do movimento revolucionário) é que o termo “la mort” foi substituído por “fraternité”. Essa alteração não foi fortuita, mas responde às dificuldades em combinar igualdade com liberdade. Sabe-se que a revolução francesa guilhotinou mais de cem mil pessoas em pouco tempo. Simplificadamente, se pode afirmar que, não logrando êxito em conciliar o seu “liberté” com o “egalité”, sobrou aos revolucionários o seu “la mort”, que teve de ser substituído pelo “fraternité”, para acabar com a matança. Mas por que? Que dificuldade insuperável há em conciliar igualdade com liberdade?
Começo pelas dificuldades em precisar o conceito de igualdade. Parece que há acordo entre os biólogos de que temos uma igualdade genética. Mas essa igualdade genética não garante igualdade corporal e psíquica. Uns são baixos, outros, altos; uns negros, outros, brancos, outros, amarelos, outros tantos, mestiços; uns tem capacidade atlética, outros, intelectual, outros, intermediárias; uns são mais bonitos, outros, muito feios. Todas estas “desigualdades” produzem efeitos comportamentais e desiderativos que tornam cada ser humano único, portanto, diferente. Senão, vejamos: uns querem estudar, outros jogar bola, ver novela ou namorar. Uns querem a engenharia, outros a medicina, ou a administração, ou jogar cartas. Uns lutam para se enriquecerem, outros lutam por um grande amor; um ama a Joana, mas não é correspondido, outro ama a Maria que lhe corresponde. Enfim, cada um deseja e luta por uma coisa que é somente sua. Para que todos fossem iguais, dever-se-ia controlar seu desejo. A base do igualitarismo é o desejo controlado. Ora isso somente é possível mediante a supressão da liberdade. Um mundo em que o desejo pessoal é controlado por um agente externo não é um mundo de liberdade, mas de opressão.
E aqui nos deparamos com as dificuldades encontradas pelos revolucionários de 1789: não há como conciliar igualdade com liberdade. Se sou livre, sou livre para ser diferente; se tenho que ser igual, onde está minha liberdade?
Essa incompatibilidade já foi demonstrada pela história. A partir das dificuldades da Revolução Francesa, o mundo tomou dois caminhos diversos: uma parte privilegiou a liberdade, em detrimento da igualdade; outra parte, privilegiou a igualdade, em detrimento da liberdade. Não é à toa que durante todo o século XX o mundo tenha se dividido entre o liberalismo (liderado pelos EUA) e o comunismo (liderado pela extinta URSS). A queda do bloco comunista com a dissolução da URSS, e a restauração das autonomias nacionais, parece ter indicado o caminho da liberdade. De fato, a única igualdade possível é a igualdade perante as leis, toda a igualdade que compulsoriamente vai além, produz opressão.
Mas porque o discurso igualitarista/libertador retorna se já fracassou, tão definitivamente?
É difícil saber porquê pessoas insistem em algo fracassado. Talvez por teimosia. Talvez por ignorância do fracasso (muitas pessoas não têm conhecimento dos fatos acima narrados) e, por fim, porque para certas pessoas não houve fracasso algum, mas um objetivo calculado que não foi alcançado por acidente de percurso. Trata-se, pois, de uma posição capciosa, malandra, de quem esconde seus reais objetivos. Nesse caso, os sectários dessa posição sabem muito bem que um sistema igualitarista irá suprimir a liberdade, mas não se importam, pelo contrário, perseguem mesmo a meta de supressão da liberdade. Mentes tiranas odeiam a liberdade, a lei, a democracia. São legiões, lobos em pele de cordeiro, que ciclicamente retornam para perpretar seu intento nocivo, como o demonstra a experiência histórica. Assistimos hoje, especialmente no Brasil, a uma profusão de “humanistas” de fachada, com discurso igualitarista, mas que anseiam pela destruição da democracia e da liberdade. Atentai!
Edson Moreira
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