terça-feira, 17 de maio de 2011

PARA QUE SERVE O ESTUDO DA LÍNGUA?

Caros,
Estamos vivendo uma época estranha! Nunca se buscou tanto justificar o erro e mudar o nome das coisas dolorosas; tudo em nome do combate ao preconceito. Para isso, prostituta deve ser chamada de profissional do sexo; anão, de portador de altura prejudicada; pobreza, de exclusão; cachaceiro, de dependente alcoólico; maconheiro, de dependente químico e por aí vai.
Nesta semana, veio a lume mais uma pérola dessa linguagem politicamente correta. Patrocinado pelo MEC (sempre ele), um certo livro de português (acreditem, livro que deveria ensinar o domínio do idioma pátrio) intitulado Por Uma Vida Melhor, com tiragem e distribuição de quase 500.000 cópias, pagas com o nosso capilé, ensina a garotada que “às vezes o certo é falar errado”. Alguns exemplos extraídos do livro ajudam a entender a questão:
“Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”;
“Nós pega o peixe”;
“Os menino pega o peixe”.
Observem as orações acima. O erro de concordância, que deveria ser apontado como erro para ser corrigido, é validado pelo livro. “Trata-se de uma variante popular legítima que cumpre sua função de comunicar”.
Mas a coisa não pára (ainda não aderi à reforma ortográfica) por aí. Não satisfeita em validar o erro, a autora busca satanizar quem não aceita seu delírio demagógico. Para ela, as pessoas que querem que o aluno fale corretamente são preconceituosas, pois incorrem em preconceito lingüístico. Pronto! Sou agora um preconceituoso que não respeita o direito que o aluno tem de falar errado. Resta, contudo, uma questão: para quê servem os livros de gramática e os professores de português se o erro e o acerto podem ser permutáveis “ad libitum”?
Contudo, para não me acusarem de má vontade e incompreensão com esses valentes progressistas, que morrem de amor pelo povo, eu me penitencio e passo a fazer algumas contribuições com a causa.
-preconceito aritmético: além de combater o preconceito lingüístico, vamos combater o preconceito aritmético. Doravante, quem apontar o dedo contra a conta 2+3=4 deverá ser enquadrado imediatamente na categoria preconceituoso e desligado de qualquer função pública (afinal, esse preconceito atinge em cheio as classes pobres);
-preconceito histórico: deverá ser aceita como variante válida a afirmação de que a revolução industrial se deu na França e a revolução francesa, na Inglaterra; afinal tudo é Europa. Essas sutilezas deverão ser abolidas, vez que não passam de elitismo;
-preconceito de arquitetura: isso de exigir um arquiteto para projetar casas e apartamentos está condenado; a partir de hoje pedreiros e mestres-de-obra terão o mesmo direito de projetar essas habitações, afinal não são eles que fazem os imóveis?
-preconceito das boas maneiras à mesa: doravante, reparar em cotovelos na mesa, em falar com a boca cheia, em pegar os alimentos com a mão, em arrotar à mesa de jantar será terminantemente proibido, afinal, essas são condutas absolutamente populares;
Essa é minha modesta contribuição para evitar que os preconceituosos conduzam a Nação
Edson Moreira

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