É preciso deixar claro e
apresentar as evidências: A FUNÇÃO DO PAI vem perdendo importância na sociedade brasileira (ocidental) atual. Para demonstrá-lo vou primeiro esclarecer
aquilo a que chamo FUNÇÃO DO PAI (por extensão, falarei também da FUNÇÃO
MATERNA).
A FUNÇÃO DO PAI é arquetípica e
foi consolidada pela constância da experiência humana com o PAI. O pai sempre
dominou o imaginário (e a realidade) das famílias. Desde tempos imemoriais, o pai sempre foi
garantia de proteção para toda a família, mulher e filhos. Às vezes nos esquecemos,
mas, ao longo da história humana, a sobrevivência das pessoas dependia, muito,
da capacidade de defesa física encontrada dentro de casa. Eis que uma família
sem pai estaria fadada ao extermínio, as mulheres seriam estupradas e as
crianças feitas escravas. Essa foi a dura realidade durante toda a história da
humanidade até há 250, 300 anos, quando o advento da segurança pública passou a
ser fator de proteção externa às famílias, flexibilizando a essencialidade do
PAI para esse papel. Essa condição explica o respeito, acatamento, admiração e
obediência que o PAI sempre suscitou nos membros da família. É a função paterna
que vai nos lembrar para sempre: “devemos ser fortes!”
A ESSENCIALIDADE DO PAI GERA A
AUTORIDADE DO PAI.
A essencialidade do PAI, pelos
séculos e séculos, consolidou o pai como fonte quase absoluta da autoridade e o fundamento da disciplina. É
por esta razão que a FUNÇÃO DO PAI é corretamente identificada com a
DISCIPLINA, A ORDEM, A PROTEÇÃO E O FUTURO dos membros da família, que deverão,
ao amadurecerem, consolidar a obra iniciada pelo pai.
A AUTORIDADE DO PAI GERA O PODER
DISCRICIONÁRIO DO PAI E SE TORNA FONTE DE CONFLITOS
A partir da revolução industrial
(que em nada foi revolução, mas evolução), as mulheres e crianças passam a ter
função econômica fora de casa (nas fábricas, por exemplo) tornando-as mais
autônomas em relação ao poder do pai. Muitos pais não se adaptaram a essas
mudanças e passaram a usar a força do poder como o poder da força para se impor
despoticamente aos filhos e mulher.
A EVOLUÇÃO DO CONFLITO COM O
PODER DO PAI RESSALTA O AUTORITARISMO E DISSOLVE SUA PROTEÇÃO
Na medida em que foi perdendo o
poder, o pai, modus in rebus, foi se
instilando da força para se impor ao grupo familiar. Exacerbando o
autoritarismo e diluindo o sentido de proteção e direção, que lhe é próprio, o
pai foi sendo identificando, pela família, com uma ordem arbitrária e injusta (tudo isso
se passando no nível emocional) alimentando certo sentimento de revolta, que
sempre existiu no filho jovem, mas que, no passado, era amplamente suplantado
pelo sentimento de admiração, respeito e devoção ao pai.
A REVOLTA CONTRA A AUTORIDADE DO
PAI GERA OBJEÇÕES CONTRA SUA EXPRESSÃO SOCIAL: A ORDEM E A DISCIPLINA.
A revolta contra a autoridade do
pai, lentamente, durante três ou quatro séculos, foi avançando sobre os vários meandros da
sociedade, culminando no estado de revolta generalizada que hoje se vê: revolta
contra a disciplina na escola; revolta contra a ordem social, revolta contra a
autoridade da religião (às vezes, até mesmo contra DEUS), enfim, revolta contra
leis, normas, regras e modos sociais (há núcleos sociais em que a simples boa
educação é vista como babaquice!) e, nesse crescendo, acabou na simples
contestação de todo aparato policial-judiciário, razão de estarmos vivendo uma
era do mais profundo desprezo pela polícia e justiça.
A FUNÇÃO MATERNA. A função
materna é tão antiga e arquetípica quanto a função do pai e seu complemento
indispensável. Ao longo do trajeto humano, a figura de uma mãe cuidadora,
carinhosa e devotada sempre esteve presente. É através da função materna que a
mãe ama incondicionalmente, é por ela que a mãe ama o filho, seja como for e faça
o que fizer. A função materna só quer mesmo cuidar do filho, amá-lo e defendê-lo
de qualquer mal que o ameace, independente do que ele faça ou se torne. Só a
função materna pode ver beleza onde só
há feiura; ver graça onde prevalece o insosso e ver um futuro esplêndido
em uma criaturinha sem nenhuma qualidade que a habilite ao futuro. É a função
materna que nos preenche de amor e que, para sempre, em nossas vidas, vai nos
lembrar de um fato: o amor existe!
O PAI ENTREGA OS PONTOS E PASSA A
MIMETIZAR A FUNÇÃO MATERNA
Com todo esse desprezo pela
autoridade e pela ordem, os operadores sociais da FUNÇÃO DO PAI, (o pai, o
juiz, o padre, o professor, o policial etc) passaram a rejeitar seu papel e a
buscar mil-e-uma justificativas para não exercê-lo. Afinal, tudo o que o homem
moderno (e sensível) não quer é ser chamado de autoritário, machista e mau.
Quando vemos um Ministro do STF a justificar a fuga de um condenado ou o
Ministério Público de São Paulo exigindo a liberdade para um assassino
asqueroso (o tal Champinha), tudo em nome da generosidade, estamos diante do
mais absoluto desprezo pela função do PAI. Ainda ontem observei em um
telejornal uma matéria com deslavados elogios a um delegado de polícia. Atentei
para ver o que se passava, vez que elogios a policiais não são frequentes, e o
que assisti foi revelador: o delegado não estava sendo elogiado por seu
trabalho de polícia (prender bandidos, impedir sequestros etc), mas por ajudar
um abrigo de velhinhos. A matéria buscou enfatizar que o policial bom é esse
modelo que mais se parece a um assistente social. Por essa razão, punir alguém
por seus atos infracionais, passou a ser coisa de gente má. O bonito é
acreditar na força do diálogo, que vai levar o infrator à compreensão de que
está num mau caminho. O pobrezinho se tornou bandido porque não foi amado e
compreendido. Essa, a receita: vamos dar amor ao bandido para que ele se torne
mocinho! A verdade é que os homens, de hoje, têm vergonha e medo de exercerem a
função de PAI. Um excelente exemplo extraído da dramaturgia é dada pelo seriado
americano “two and half man”. Nessa produção, os episódios revelam homens que,
absolutamente, não sabem como ser pais. Só lhes resta a adolescência eterna!
AS FUNESTAS CONSEQUÊNCIAS DA DECADÊNCIA
DA FUNÇÃO DO PAI
Com a decadência da FUNÇÃO DO
PAI, e com ela a decadência da disciplina e da ordem, sobrevém uma enorme
dificuldade em controlar os comportamentos transgressivos. Mais e mais se vai
buscando mudar as estratégias punitivas, substituindo-as por outras de cunho dialogal
e compreensivo (FUNÇÃO MATERNA). A
princípio, dar mais amor e compreensão ao transgressor parecia mesmo ter o
poder de mudar seu comportamento, tornando-o socialmente útil. Contudo, depois
de 40 anos nessa trilha (desde os primeiros movimentos anti-autoridade no
Brasil), o cenário não poderia ser mais desolador. São fatos que enumero a
seguir.
ESCOLA: é inquestionável a
ampliação das liberdades dos alunos de primeiro e segundo graus. Hoje,
praticamente, só fazem mesmo o que querem. Só usam uniforme, se querem; só
entram para as salas, se querem; só obedecem aos professores, se querem; só
fazem as tarefas, se querem e só são reprovados, se querem. Qualquer tentativa
de coibir um comportamento de barulho na sala-de-aula torna o professor alvo de
agressões e vilipêndios que a maioria não suporta e acaba por abandonar a
carreira. A consequência de tanta
liberdade está estampada: baixíssimo desempenho e a transformação das escolas
em pontos de delinquência, drogas e sexualização precoce.
A FAMÍLIA: a quebra do princípio
da autoridade e da punição como meio de controle está sendo arrasador para as
famílias. Mais e mais vemos crianças
determinando o comportamento dos pais, descontrole comportamental de adolescentes
e o descaminho para as drogas e delinquência. Os pais de hoje, diante de um
comportamento transgressivo do filho, se sentem desorientados, impotentes e
apavorados, pois o recurso da punição se torna fonte de culpas (despreparados
que estão) e o diálogo/sermão se mostram inúteis. A consequência é uma
desestruturação da adolescência que nunca se viu antes.
A SOCIEDADE: a quebra do
princípio da autoridade e do apreço pela ordem se vê todos os dias, a todos os
momentos, na rua ou na televisão. O aumento da criminalidade ( no Brasil se
matam 55 mil pessoas/ano – mais que em toda a guerra do Iraque!), um desejar
implacável (surgem certos grupos que exigem que a sociedade lhes dê o que
querem, caso contrário, reagem agressivamente. E o que querem? Tudo, qualquer
coisa é motivo para uma guerra contra a sociedade. Ainda esta semana um grupo
de aproximadamente vinte adolescentes , em São Paulo, irritados pelo
cancelamento de um baile funk, saíram saqueando e quebrando tudo em um posto de
gasolina e loja de conveniência. Uma das bestas tentou inclusive atear fogo às
bombas de combustível, mas A Providência não permitiu tal tragédia). E por que
a criminalidade cresce, se a pobreza diminuiu? Porque não há punição. É
proibido punir! Exemplo: sabe-se que na maioria dos crimes de assassinato há a participação
de menores de 15, 16 e 17 anos, mas toda a tentativa de reduzir a maioridade
penal é recebida como coisa de homens maus, que não tem pena das crianças etc
etc. Nada de punição. A estratégia deve ser a de dialogar com o transgressor
(um Ministro de Estado veio a público, há poucos dias, recomendar NÃO proibir
os chamados rolezinhos, mas dialogar
com seus líderes).
CONCLUSÃO: a realidade sempre
reage contra as ideologias e a realidade aponta claramente: precisamos da
FUNÇÃO DE PAI para nos mantermos como civilizados. A idéia de que a eliminação
da FUNÇÃO DO PAI (ordem, disciplina, punição) tornaria a vida na terra um
paraíso se mostrou inteiramente falsa: quarenta anos nessa trilha o demonstram.
Contudo, uma advertência deve ser feita: os ideólogos da retirada da FUNÇÃO DE
PAI não desistiram e vão insistir em mais do mesmo remédio: “precisamos
compreender mais os jovens”, “precisamos dar mais liberdade aos jovens”,
“precisamos de mais liberdade sexual”, “precisamos dialogar mais”, “precisamos
dar mais lazer” etc. Continuaremos a ouvir esses bordões do Ades vindo de pessoas confusas (ou muito
maliciosas). Atentai!