sábado, 4 de janeiro de 2014

A ILUSÃO DE UM MUNDO PARADISÍACO: SÓ DIREITOS!


A ILUSÃO DE UM MUNDO PARADISÍACO: SÓ DIREITOS!

Vivemos uma época de incessante busca por mais direitos. Todo o esforço social, cultural e intelectual parece ser buscar mais e mais direitos. Como diria Hegel, o nosso zeitgeist é essa luta incessante pela ampliação de direitos. Parece, mesmo, a coisa mais justa, mais correta, reivindicar mais direitos.
Para todo lado que se vira, deparamos com grupos, geralmente organizados, num incessante trabalho de cooptação de agentes para ampliação de direitos para sua causa. São grupos de negros querendo mais inclusão, grupos indígenas querendo mais terras, grupos feministas, grupos defensores das crianças, grupos gays, grupos pró-pedofilia (já estão organizados no Brasil), grupos pró-aborto, grupos pró-drogas, grupos anti-tabagismo, funcionários querendo maiores salários, professores querendo dobrar a despesa com a educação  etc etc.
Parece, mesmo, ser a conquista de mais direitos o caminho para a salvação! Há, inclusive, um projeto de lei de um curioso senador estabelecendo a curiosa norma pela qual todos têm direito à felicidade. Igualmente esdrúxula, para dizer pouco, é a norma que torna direito do filho ter o amor do pai. No caso de o pai não sentir genuíno amor por um filho (seja lá qual for o motivo), será, então multado e condenado ou aprenderá a fingir um amor inexistente! Esse é apenas um dos inúmeros aspectos perniciosos do estado entrar na casa e intimidade das pessoas. E o que dizer do direito à felicidade? No caso de João estar apaixonado por Maria e esta não ter por João o mesmo sentimento, como disporia o legislador: o Jõao sacrificaria sua felicidade em favor de Maria? Ou Maria desposaria João, mesmo sem amá-lo, somente para vê-lo feliz e, assim, atender à legislação da felicidade? Os absurdos se multiplicam.
Mas retornando ao tema da busca por mais direitos, há um fato, de fundamental importância, que fica sempre negligenciado e não é jamais discutido, embora óbvio. Trata-se da contrapartida dos direitos: os deveres! É de conhecimento elementar que se há um direito para alguém, há a obrigação, ou dever, de satisfazer esse direito por uma outra pessoa, mesmo que ocorra, no processo, a mediação do estado. Se alguém tem direito ao amor, alguém deverá ter o dever de amar; se alguém tem o direito à moradia, alguém tem o dever de provê-lo dessa moradia; se alguém tem o direito à escola pública de qualidade, alguém deverá responder pelo dever de fornecer essa escola; se o criminoso condenado tem direito à uma pensão para os filhos durante o encarceramento, alguém deverá prover os recursos para essa pensão; se o funcionário público tem direito ao aumento dos salários, alguém  terá o dever de dispor a verba necessária para esse aumento. Enfim, para cada direito, há um dever (e alguém responsável por esse dever)  os exemplos se multiplicam  ao infinito.
O problema de nossa incultura cívica é que todos nos achamos merecedores de mais direitos e sequer pensamos sobre em quem recairá o ônus do dever correspondente. Geralmente, essa ocultação se utiliza de responsabilizar o estado por uma gama imensa dos deveres correspondentes. É certo que alguns direitos são providos diretamente pelas pessoas, mas outros necessitam da intermediação do estado. Agora, vamos pensar um pouco: o estado produz algum tipo de riqueza? O estado é capaz de dar amor, cuidar? Obviamente, não. Toda a verba estatal provém da sociedade; todo amor e cuidado provém de um ser humano. O estado retira recursos da sociedade através dos impostos, taxas, contribuições etc. e, com esse montante, o estado financia os direitos que os grupos conquistaram.
É aí que a conta não fecha. Vamos deixar as coisas esdrúxulas para lá (direito ao amor, direito ao carinho, direito à auto-estima, direito ao beijo etc) e nos atermos somente aos direitos que geram obrigações materiais. Ainda há poucos meses, um grupo intitulado MOVIMENTO PASSE LIVRE, com grande estardalhaço conseguiu deter aumentos nos preços das passagens urbanas e, em certos casos, conseguiu, até mesmo, a redução do preço dessas passagens. Todo mundo aplaudiu aquela maravilha (“povo unido, jamais será vencido” etc). O objetivo do grupo é o que vai no seu próprio nome: estabelecer tarifa zero nas passagens dos ônibus urbanos! Ora, ora, uma pergunta deve ser feita: não sendo o passageiro a pagar por sua locomoção, quem paga? É claro que não será o dono da empresa, pois ninguém põe dinheiro em um negócio que não dá retorno, também os motoristas, cobradores, mecânicos querem o seu dinheirinho e não irão trabalhar de graça, pois. A única saída seria então o estado pagar pelo serviço. Mas quando dizemos “o estado”, ocultamos o verdadeiro financiador do serviço: a população, com seu suado dinheirinho. Mas o serviço de transporte urbano é mastodôntico e seria necessária a criação de impostos específicos para seu custeio, pronto, agora a conta fecha: vamos tirar o dinheiro de toda a sociedade para financiar o usuário do ônibus. Mas não vamos nos esquecer de que o que o  particular faz por 3, o estado paga 10,  portanto, o custo final do transporte seria aumentado enormemente, exigindo um pesado acréscimo na carga tributária. Rateando esse aumento de impostos pela população, veríamos casos e mais casos em que as pessoas perderam mais com o aumento dos impostos do que gastariam pagando elas próprias suas passagens. Isso na melhor das hipóteses!
Esse caso concreto serve para demonstrar o quanto a busca por direitos, especialmente os mediados pelo estado, torna a sociedade mais fraca e o estado mais forte, pois a mediação do estado é onerosa e concentradora de poder.
O Brasil vem nessa trilha de aumentar direitos, que, na verdade torna a sociedade mais fraca e o estado mais forte. A continuar nesse passo, em breve seremos, todos, servos dessa máquina gigantesca, esse leviatã, chamado estado. Atentai!

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