O CULTO AO CORPO (A
ADORAÇÃO À VIDA SAUDÁVEL) É SINAL DE SAÚDE OU SINTOMA DE UMA NOVA DOENÇA: UMA
RELIGIÃO PAGÃ!
O
culto ao corpo não é nenhuma novidade no mundo ocidental. Já os gregos (não os
de hoje, mas aqueles de 2.500 anos atrás) o tinham em sua pauta da perfeição
humana. O corpo perfeito era tido como expressão de força, beleza e verdade. As
esculturas clássicas o demonstram
sobejamente. Mas, sobretudo, os gregos buscavam na perfeição do corpo, a
expressão da perfeição do espírito. Para esse fim, desenvolveram o conceito de
KALOKAGATHIA, isto é, o virtuoso tende para o belo e o belo tende para o
virtuoso, chegando quase à identidade do belo com o virtuoso. Com o advento e
difusão do cristianismo, o corpo deixou de ser o centro revelador da perfeição
humana, tendo esta se transferido para a alma santificada pelo Cristo. No
cristianismo, o corpo somente é valorizado porque abriga o Espírito Santo de
Deus (sem o Espírito Santo de Deus, nossa alma seria somente descendende, rumo
às demandas do corpo; é, pois, o Espírito Santo, que habita em nós, que
possibilita a direção ascendente e nos liberta da escravidão das demandas do
corpo) . O corpo, portanto, torna-se importante por sua relação com a perfeição
de Deus e não pela perfeição humana. A bem da verdade, no Cristianismo, o corpo
é antes o palco das paixões que precisam do Salvador para serem orientadas para
o Bem, do que um valor em si mesmo.
Nesse sentido, houve, no período de desenvolvimento do cristianismo, um
arrefecimento do culto ao corpo. Pode-se dizer que o culto ao corpo foi
deslocado para o culto à santificação do corpo.
É
claro que buscar a santificação do corpo nada tem a ver com um corpo bem
talhado, musculoso e harmônico. O corpo
se santifica por atitudes retas e sempre de acordo com o desejo de Deus: a
beleza do corpo está na conduta e não no seu contorno ou forma . Embora a busca
da vida saudável não seja oposta à vida santificada, a essência, o sentido é
que se transforma.
Com
a renascença, sec XVI, elementos da cultura helênica voltam a dominar o cenário
cultural ocidental e a busca da santificação do corpo, progressivamente, vai
perdendo espaço para a busca da beleza corporal. Contudo, enquanto que na Antiguidade Clássica a perfeição do corpo
expressava a virtude do espírito (KALOKAGATHIA), na Renascença, a beleza do
corpo busca expressar o ideal humano. É o homem, em sua existência acidentada e
não mais o homem perfeito, virtuoso, o representado (veja, por exemplo, o
Moisés de Michelângelo). Lentamente, uma nova mudança na consideração do culto
ao corpo foi se processando: do culto ao corpo (como expressão da virtude espiritual,)
da antiguidade clássica, passando pelo culto à santificação do corpo (como
morada Espírito Santo de Deus), de todo o período medieval, o culto ao corpo vai,
a partir do Renascimento, tomar a forma do homem natural, maravilhoso e
sofredor, sujeito às intempéries da vida e aos humores do Criador. É esse
homem, angustiado, ao mesmo tempo inventivo e otimista, que o culto ao corpo
será dedicado. Não se busca mais a perfeição da virtude, não se busca mais a
santificação do corpo, busca-se sua celebração pura e simples – natural. A
beleza passa a ser admirada não mais por suas ligações verticais com as altas
virtudes ou com Deus. Mas por ser uma
qualidade genuinamente humana, que visa ao humano e que se encerra no humano.
A ATUAL ONDA DO CULTO AO CORPO E
O COMPROMISSO COM A PUREZA!
O culto ao corpo de hoje mantém o
desejo de expressão da existência humana, mas agrega um aspecto muitíssimo
importante que, no mais das vezes, passa despercebido: o desejo de purificação
do espírito mediante a purificação do corpo! O culto ao corpo se desloca da
busca da beleza humana para a purificação do corpo, não em razão do
comportamento, mas uma purificação advinda pelo controle do que se come. Dessa
forma, o controle da alimentação (alimentação natural, macrobiótica,
vegetarianismo, veganismo, entre outros), restringindo todo o cardápio
alimentar, passa a ser a “fonte da purificação do corpo”, não importando o
caráter ou ações. Mas o que se busca com toda essa “purificação corporal”?
Alguns dirão: saúde! Contudo, não está claro que essa práticas trouxessem
um benefício expressivo para a saúde. Há
casos que, ao contrário, sua utilização maciça tornou-se fonte de grande perturbação
da saúde. A expressão recém integrada da ortorexia,
indicando um transtorno emocional/comportamental decorrente da perda de muito
tempo diário avaliando cardápios e dietas, retraimento e empobrecimento das
relações sociais, depressão e angústia, além da fragilidade física põe abaixo
qualquer argumento que venha a querer sustentar que essas práticas alimentares produzem
saúde. Mas se não se busca uma melhor saúde física/emocional/relacional, o que
essas pessoas tanto buscam?
O CULTO À PUREZA DO CORPO REVELA
O DESEJO DE PURIFICAÇÃO DA ALMA
Firmei a convicção de que os
“naturebas”, de forma geral, buscam certa espiritualidade ao controlar tudo o
que ingerem. É como se, assim fazendo, se privando dos prazeres alimentares, estivessem
se livrando do mal que contamina o mundo. O mal do mundo deve ser rechaçado! Há
nessa dinâmica uma quota de sacrifício, de renúncia. O controle e a renúncia ao
prazer da comida se tornam, então, a AÇÃO LIBERTADORA E SALVADORA da alma. Como
não ver nessas ações uma intenção religiosa? Como não ver aí um projeto
salvífico?
Contudo, enquanto que, no
cristianismo, o sacrifício, o jejum, a privação
voluntária são ações verticais, que intencionam a Deus, no moderno culto
ao corpo o sacrifício é horizontal, intencionando o próprio corpo. A realização
que daí advém é de cunho psicológico, pois não visam a Deus. Cria-se, assim,
uma espiritualidade sem Deus. Seria mais uma manifestação do retorno das
antigas religiões pagãs e naturais. Atentai!
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