quinta-feira, 19 de junho de 2014

O CULTO AO CORPO (A ADORAÇÃO À VIDA SAUDÁVEL) É SINAL DE SAÚDE OU SINTOMA DE UMA NOVA DOENÇA: UMA RELIGIÃO PAGÃ!

O CULTO AO CORPO  (A ADORAÇÃO À VIDA SAUDÁVEL) É SINAL DE SAÚDE OU SINTOMA DE UMA NOVA DOENÇA: UMA RELIGIÃO PAGÃ!




                O culto ao corpo não é nenhuma novidade no mundo ocidental. Já os gregos (não os de hoje, mas aqueles de 2.500 anos atrás) o tinham em sua pauta da perfeição humana. O corpo perfeito era tido como expressão de força, beleza e verdade. As esculturas clássicas  o demonstram sobejamente. Mas, sobretudo, os gregos buscavam na perfeição do corpo, a expressão da perfeição do espírito. Para esse fim, desenvolveram o conceito de KALOKAGATHIA, isto é, o virtuoso tende para o belo e o belo tende para o virtuoso, chegando quase à identidade do belo com o virtuoso. Com o advento e difusão do cristianismo, o corpo deixou de ser o centro revelador da perfeição humana, tendo esta se transferido para a alma santificada pelo Cristo. No cristianismo, o corpo somente é valorizado porque abriga o Espírito Santo de Deus (sem o Espírito Santo de Deus, nossa alma seria somente descendende, rumo às demandas do corpo; é, pois, o Espírito Santo, que habita em nós, que possibilita a direção ascendente e nos liberta da escravidão das demandas do corpo) . O corpo, portanto, torna-se importante por sua relação com a perfeição de Deus e não pela perfeição humana. A bem da verdade, no Cristianismo, o corpo é antes o palco das paixões que precisam do Salvador para serem orientadas para o Bem, do que um valor em si mesmo.  Nesse sentido, houve, no período de desenvolvimento do cristianismo, um arrefecimento do culto ao corpo. Pode-se dizer que o culto ao corpo foi deslocado para o culto à santificação do corpo.
                É claro que buscar a santificação do corpo nada tem a ver com um corpo bem talhado, musculoso e harmônico.  O corpo se santifica por atitudes retas e sempre de acordo com o desejo de Deus: a beleza do corpo está na conduta e não no seu contorno ou forma . Embora a busca da vida saudável não seja oposta à vida santificada, a essência, o sentido é que se transforma.
                Com a renascença, sec XVI, elementos da cultura helênica voltam a dominar o cenário cultural ocidental e a busca da santificação do corpo, progressivamente, vai perdendo espaço para a busca da beleza corporal. Contudo, enquanto                 que  na Antiguidade Clássica a perfeição do corpo expressava a virtude do espírito (KALOKAGATHIA), na Renascença, a beleza do corpo busca expressar o ideal humano. É o homem, em sua existência acidentada e não mais o homem perfeito, virtuoso, o representado (veja, por exemplo, o Moisés de Michelângelo). Lentamente, uma nova mudança na consideração do culto ao corpo foi se processando: do culto ao corpo (como expressão da virtude espiritual,) da antiguidade clássica, passando pelo culto à santificação do corpo (como morada Espírito Santo de Deus), de todo o período medieval, o culto ao corpo vai, a partir do Renascimento, tomar a forma do homem natural, maravilhoso e sofredor, sujeito às intempéries da vida e aos humores do Criador. É esse homem, angustiado, ao mesmo tempo inventivo e otimista, que o culto ao corpo será dedicado. Não se busca mais a perfeição da virtude, não se busca mais a santificação do corpo, busca-se sua celebração pura e simples – natural. A beleza passa a ser admirada não mais por suas ligações verticais com as altas virtudes ou com  Deus. Mas por ser uma qualidade genuinamente humana, que visa ao humano e que se encerra no humano.


A ATUAL ONDA DO CULTO AO CORPO E O COMPROMISSO COM A PUREZA!
O culto ao corpo de hoje mantém o desejo de expressão da existência humana, mas agrega um aspecto muitíssimo importante que, no mais das vezes, passa despercebido: o desejo de purificação do espírito mediante a purificação do corpo! O culto ao corpo se desloca da busca da beleza humana para a purificação do corpo, não em razão do comportamento, mas uma purificação advinda pelo controle do que se come. Dessa forma, o controle da alimentação (alimentação natural, macrobiótica, vegetarianismo, veganismo, entre outros), restringindo todo o cardápio alimentar, passa a ser a “fonte da purificação do corpo”, não importando o caráter ou ações. Mas o que se busca com toda essa “purificação corporal”? Alguns dirão: saúde! Contudo, não está claro que essa práticas trouxessem um  benefício expressivo para a saúde. Há casos que, ao contrário, sua utilização maciça tornou-se fonte de grande perturbação da saúde. A expressão recém integrada da ortorexia, indicando um transtorno emocional/comportamental decorrente da perda de muito tempo diário avaliando cardápios e dietas, retraimento e empobrecimento das relações sociais, depressão e angústia, além da fragilidade física põe abaixo qualquer argumento que venha a querer sustentar que essas práticas alimentares produzem saúde. Mas se não se busca uma melhor saúde física/emocional/relacional, o que essas pessoas tanto buscam?
O CULTO À PUREZA DO CORPO REVELA O DESEJO DE PURIFICAÇÃO DA ALMA
Firmei a convicção de que os “naturebas”, de forma geral, buscam certa espiritualidade ao controlar tudo o que ingerem. É como se, assim fazendo, se privando dos prazeres alimentares, estivessem se livrando do mal que contamina o mundo. O mal do mundo deve ser rechaçado! Há nessa dinâmica uma quota de sacrifício, de renúncia. O controle e a renúncia ao prazer da comida se tornam, então, a AÇÃO LIBERTADORA E SALVADORA da alma. Como não ver nessas ações uma intenção religiosa? Como não ver aí um projeto salvífico?
Contudo, enquanto que, no cristianismo, o sacrifício, o jejum, a privação  voluntária são ações verticais, que intencionam a Deus, no moderno culto ao corpo o sacrifício é horizontal, intencionando o próprio corpo. A realização que daí advém é de cunho psicológico, pois não visam a Deus. Cria-se, assim, uma espiritualidade sem Deus. Seria mais uma manifestação do retorno das antigas religiões pagãs e naturais. Atentai!









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