segunda-feira, 10 de junho de 2013

AFINAL: A PUNIÇÃO EDUCA OU DESEDUCA?



AFINAL: A PUNIÇÃO EDUCA OU DESEDUCA?
Não há nenhuma novidade na constatação de que o Brasil passa por uma crise de disciplina com consequências graves tanto para a educação das crianças e jovens quanto para a segurança pública. A realidade não pode mais ser escondida e explode em nossa cara, seja via meios de comunicação, seja diretamente, na vida pessoal.
São tantos e tão variados  os casos de barbaridades cometidas por crianças e adolescentes que é desnecessário formar uma coleção probatória. Mas como nada vem do nada, “nihil ex nihilo”, o assunto que nunca me abandona, voltou em recente visita que fiz a uma ex aluna do curso de pedagogia, já há três anos formada. Na visita, não pude falar com a, agora, professora. Fui informado por seu marido que minha ex aluna não estava em casa e também não estava no trabalho: estava em consulta com o psiquiatra. Ocorre que tantas foram as tribulações dessa educadora, em sala-de-aula  para alunos da 1ª Fase do Ensino Fundamental, que acabou por ter uma crise nervosa de alta gravidade, sendo-lhe recomendado repouso absoluto, medicação e psicoterapia.
Fosse um caso particular de estresse profissional, não teria nenhuma relevância, além da clínica. Não é, contudo, um  caso particular, mas a realidade do dia-a-dia de nossos professores de crianças e adolescentes. As escolas se avolumam de alunos mal-educados, indisciplinados, irritantes, que conversam o tempo todo (ainda tem o celular que não para) e que, não raro, adotam um comportamento agressivo e até delinquente. Em tais condições, o professor vai esgotando suas forças até desistir e “deixar  rolar”, passa, então, a ser um burocrata sem nenhuma função educadora, que enrola o que der até que chegue o horário do fim do expediente. A pessoa se anestesia e toca o barco como dá. Fica no cargo, mas, essencialmente, deixa de ser educador.
Alguns professores, entretanto, não conseguem fazer esse movimento de alheamento aos objetivos educacionais. São os que se esgotam e adoecem.
Colocado o problema, já não é o caso de nos perguntarmos: uma educação que dispensa o rigor disciplinar, na qual o professor é um “facilitador”, sem nenhum controle do comportamento do aluno é realmente um “progresso” para o nosso sistema educacional? Ou seria um tremendo atraso bafejado por ideólogos midiáticos como “educação moderna e cidadã”?
Para além da manutenção da ordem, teria a disciplina alguma função no desenvolvimento da criança e do adolescente?
De saída, porém, podemos afirmar sem meios termos que a disciplina é indispensável para a manutenção da ordem. Óbvio que as opiniões sobre a necessidade de uma “ordem” no ambiente da escola se dividem. Alguns verão na ordem uma dimensão reguladora dos comportamentos transgressivos, agressivos e negligentes e, portanto, garantidora de um ambiente de legítima liberdade,  onde a criatividade e o desempenho devem prevalecer. Para esse grupo, portanto, A PUNIÇÃO EDUCA.
Outros dirão que uma norma imposta “de fora para dentro” é artifício autoritário, pois o aluno a aceita por medo da punição, mas seu coração não se deixa convencer, formando, assim, uma divisão (splitting) no interior da personalidade, base sobre a qual erigirá uma futura personalidade neurótica que irá reproduzir o mesmo autoritarismo. Para esses críticos da ordem, a função da educação não é propriamente a de transmitir conhecimentos, mas a de desenvolver uma consciência crítica, questionadora  da sociedade em que vivemos. Daí sua ênfase em “atitudes”, “cidadania”, “direitos” etc. Para esse grupo de educadores, portanto, A PUNIÇÃO DESEDUCA. Resta saber como jovens semi-alfabetizados, incapazes para a linguagem escrita simples e incapazes para cálculos elementares podem ser CIDADÃOS CRÍTICOS e não massa de repetição de chavões políticos e revolucionários.
Pretendo, em um texto posterior, fazer  uma descrição fenomenológica do que ocorre na mente de uma criança/adolescente que é punida quando transgride, comparando-a com  uma criança que não é punida em situação semelhante.
Independente dessa investigação psicológica futura, os dados atuais, somados à observação são inequívocos: o estado de anomia em que se encontra a escola brasileira hoje alerta para as seguintes constatações:
1 – o nível geral da aprendizagem não tem mais como ser pior. Há alunos que chegam aos cursos superiores totalmente incapazes de elaborar um texto de três linhas que seja humanamente compreensível;
2- o afastamento (por motivo de saúde mental) ou mesmo o abandono da carreira docente (ensino fundamental) tem aumentado assustadoramente, fazendo com que o gasto público investido em treinamento e formação se eleve, sem que ocorra o retorno do investimento em educação;
3- os relatos revelam um processo de tortura pelo qual passam nossos professores em seu quotidiano, fazendo com que, muito cedo, se desiludam de sua profissão;
4- as escolas se tornam, a cada dia mais, um campo privilegiado do desenvolvimento da sociopatia infanto-juvenil, onde o vitorioso não é o mais sábio, o  mais culto, o melhor esportista, mas aquele que é capaz de uma agressividade extrema e mais intimidadora;
5- as escolas se tornaram campos de guerra, onde os professores estão intimidados (com medo mesmo!) e as agressões, violência e até o assassinato de um aluno por outro já está no horizonte do dia-a-dia.
6- a violência que antes era própria dos rapazes, agora, definitivamente, é campo democrático!
Não há como não concluir com as palavras certas e sem meios-termos: SEM PUNIÇÃO, NÃO HÁ SOLUÇÃO!


2 comentários:

Renata Costa disse...

Muito bom professor Edson, concordo totalmente!
Nos precisamos pensar em como seria essas puniçoes, ja que a escola tem um limite que nao pode ser ultrapassado. Particularmente, acredito na relacao familia escola a favor da educacao.
Att. Professora Renata

edsonmoreira disse...

Obrigado por seu comentário, professora Renata.
As punições aplicáveis pela escola são as clássicas: advertência, suspensão e expulsão, nessa ordem e com esse limite. A certeza da punição seria primeiramente um fator intimidador da agressão e,em seguida,se tornaria um fator cultural e moral. Também sou favorável à parceria família-escola, mas a questão aqui colocada é quanto ao instrumento que tornasse eficaz a parceria. Uma parceria sem capacidade punitiva certamente fracassaria (como muito se tem visto). Um abraço