AFINAL: A PUNIÇÃO EDUCA OU
DESEDUCA?
Não há nenhuma novidade na
constatação de que o Brasil passa por uma crise de disciplina com consequências
graves tanto para a educação das crianças e jovens quanto para a segurança
pública. A realidade não pode mais ser escondida e explode em nossa cara, seja
via meios de comunicação, seja diretamente, na vida pessoal.
São tantos e tão variados os casos de barbaridades cometidas por
crianças e adolescentes que é desnecessário formar uma coleção probatória. Mas
como nada vem do nada, “nihil ex nihilo”, o assunto que nunca me abandona,
voltou em recente visita que fiz a uma ex aluna do curso de pedagogia, já há
três anos formada. Na visita, não pude falar com a, agora, professora. Fui
informado por seu marido que minha ex aluna não estava em casa e também não
estava no trabalho: estava em consulta com o psiquiatra. Ocorre que tantas
foram as tribulações dessa educadora, em sala-de-aula para alunos da 1ª Fase do Ensino Fundamental,
que acabou por ter uma crise nervosa de alta gravidade, sendo-lhe recomendado
repouso absoluto, medicação e psicoterapia.
Fosse um caso particular de
estresse profissional, não teria nenhuma relevância, além da clínica. Não é,
contudo, um caso particular, mas a
realidade do dia-a-dia de nossos professores de crianças e adolescentes. As
escolas se avolumam de alunos mal-educados, indisciplinados, irritantes, que
conversam o tempo todo (ainda tem o celular que não para) e que, não raro,
adotam um comportamento agressivo e até delinquente. Em tais condições, o
professor vai esgotando suas forças até desistir e “deixar rolar”, passa, então, a ser um burocrata sem
nenhuma função educadora, que enrola o que der até que chegue o horário do fim
do expediente. A pessoa se anestesia e toca o barco como dá. Fica no cargo,
mas, essencialmente, deixa de ser educador.
Alguns professores, entretanto,
não conseguem fazer esse movimento de alheamento aos objetivos educacionais.
São os que se esgotam e adoecem.
Colocado o problema, já não é o
caso de nos perguntarmos: uma educação que dispensa o rigor disciplinar, na
qual o professor é um “facilitador”, sem nenhum controle do comportamento do
aluno é realmente um “progresso” para o nosso sistema educacional? Ou seria um
tremendo atraso bafejado por ideólogos midiáticos como “educação moderna e
cidadã”?
Para além da manutenção da ordem,
teria a disciplina alguma função no desenvolvimento da criança e do
adolescente?
De saída, porém, podemos afirmar
sem meios termos que a disciplina é indispensável para a manutenção da ordem.
Óbvio que as opiniões sobre a necessidade de uma “ordem” no ambiente da escola
se dividem. Alguns verão na ordem uma dimensão reguladora dos comportamentos
transgressivos, agressivos e negligentes e, portanto, garantidora de um
ambiente de legítima liberdade, onde a
criatividade e o desempenho devem prevalecer. Para esse grupo, portanto, A
PUNIÇÃO EDUCA.
Outros dirão que uma norma
imposta “de fora para dentro” é artifício autoritário, pois o aluno a aceita
por medo da punição, mas seu coração não se deixa convencer, formando, assim,
uma divisão (splitting) no interior da personalidade, base sobre a qual erigirá
uma futura personalidade neurótica que irá reproduzir o mesmo autoritarismo.
Para esses críticos da ordem, a função da educação não é propriamente a de
transmitir conhecimentos, mas a de desenvolver uma consciência crítica,
questionadora da sociedade em que
vivemos. Daí sua ênfase em “atitudes”, “cidadania”, “direitos” etc. Para esse grupo
de educadores, portanto, A PUNIÇÃO DESEDUCA. Resta saber como jovens semi-alfabetizados, incapazes para a linguagem escrita simples e incapazes para cálculos elementares podem ser CIDADÃOS CRÍTICOS e não massa de repetição de chavões políticos e revolucionários.
Pretendo, em um texto posterior,
fazer uma descrição fenomenológica do
que ocorre na mente de uma criança/adolescente que é punida quando transgride,
comparando-a com uma criança que não é
punida em situação semelhante.
Independente dessa investigação psicológica
futura, os dados atuais, somados à observação são inequívocos: o estado de
anomia em que se encontra a escola brasileira hoje alerta para as seguintes
constatações:
1 – o nível geral da aprendizagem
não tem mais como ser pior. Há alunos que chegam aos cursos superiores totalmente
incapazes de elaborar um texto de três linhas que seja humanamente
compreensível;
2- o afastamento (por motivo de
saúde mental) ou mesmo o abandono da carreira docente (ensino fundamental) tem
aumentado assustadoramente, fazendo com que o gasto público investido em
treinamento e formação se eleve, sem que ocorra o retorno do investimento em
educação;
3- os relatos revelam um processo
de tortura pelo qual passam nossos professores em seu quotidiano, fazendo com
que, muito cedo, se desiludam de sua profissão;
4- as escolas se tornam, a cada
dia mais, um campo privilegiado do desenvolvimento da sociopatia
infanto-juvenil, onde o vitorioso não é o mais sábio, o mais culto, o melhor esportista, mas aquele
que é capaz de uma agressividade extrema e mais intimidadora;
5- as escolas se tornaram campos
de guerra, onde os professores estão intimidados (com medo mesmo!) e as
agressões, violência e até o assassinato de um aluno por outro já está no
horizonte do dia-a-dia.
6- a violência que antes era própria dos rapazes, agora, definitivamente, é campo democrático!
Não há como não concluir com as
palavras certas e sem meios-termos: SEM PUNIÇÃO, NÃO HÁ SOLUÇÃO!
2 comentários:
Muito bom professor Edson, concordo totalmente!
Nos precisamos pensar em como seria essas puniçoes, ja que a escola tem um limite que nao pode ser ultrapassado. Particularmente, acredito na relacao familia escola a favor da educacao.
Att. Professora Renata
Obrigado por seu comentário, professora Renata.
As punições aplicáveis pela escola são as clássicas: advertência, suspensão e expulsão, nessa ordem e com esse limite. A certeza da punição seria primeiramente um fator intimidador da agressão e,em seguida,se tornaria um fator cultural e moral. Também sou favorável à parceria família-escola, mas a questão aqui colocada é quanto ao instrumento que tornasse eficaz a parceria. Uma parceria sem capacidade punitiva certamente fracassaria (como muito se tem visto). Um abraço
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