Aqui vou eu em mais uma avaliação
psicossocial do desastre brasileiro nesta copa. A primeira pergunta: o time
brasileiro era mesmo tão ruim? Se nos basearmos nas fracas cinco primeiras
partidas da copa e nas duas seguintes, desastrosas, o diagnóstico é esse mesmo:
o time brasileiro era mesmo muito ruim! Mas esse raciocínio é ligeiro,
superficial, pois esconde o fato de que o time do Brasil vinha muito bem até
antes da copa, tendo sido campeão da Copa das Confederações, há um ano. A
pergunta, portanto, deve ser deslocada: por que um time que vinha tão bem,
apresentou um desempenho tão sofrível? É aqui que proponho uma avaliação
psicossocial.
Há no Brasil, hoje, uma percepção
aguda de nossos problemas de gestão: a saúde pública é péssima, a educação
pública se tornou fábrica de analfabetismo e sexualização precoce, a segurança
do cidadão não vale palito de fósforo riscado (70 mil assassinatos/ano é mais
que muitas guerras declaradas), entre outras mazelas. Há, sobretudo, um
sentimento de cansaço dessa decadência moral de nossos governantes, que vem
contaminando o próprio povo.
O trânsito da informação,
sobretudo pelas redes sociais, formou uma ideia de que nosso atraso não é praga
divina, mas construído com nossas próprias mãos. Aí vem a ideia conclusiva: se
quisermos, podemos mudar os gestores e colocar pra governar gente que realmente
sabe o que fazer e tem interesse público!
A solução, portanto, está em
nossas próprias mãos. Essa ideia já é, em si, foco de revolta.
O CUSTO DA COPA
O custo da copa passou a ser a
expressão da incompetência e desonestidade dos nossos governantes. A mente
humana tem o hábito de tomar o parecido pelo igual: como conciliar uma Seleção
feliz e vencedora com a dura realidade do brasileiro? Torcer pela felicidade da
Seleção seria como não se importar com a infelicidade do povo. E seria um
passatempo muito caro. Aqui operou o mecanismo mental da ambivalência, pelo qual você ama e odeia um mesmo objeto (como uma
nora que ama e odeia sua sogra). De sorte que todos amamos e desejamos o
sucesso da seleção, no âmbito da consciência; mas, inconscientemente, expressamos
contra ela o ódio deslocado de nossas agruras sociais, ódio, esse, deslocado,
rejeitado e que não cabe em nossa consciência, pois fonte de sentimento de
culpa. Contudo, esse odiar inconsciente não é inócuo, produz efeitos. E os
efeitos, via mecanismo do inconsciente coletivo, foram brotar na mente de nossos nossos
atletas. Senão, como explicar jogadores experientes tão amedrontados? Como
explicar um capitão, como o Thiago Silva, chorando de medo de bater um pênalti?
A SELEÇÃO ERA RUIM?
Sim, mas não tanto. Deveria
perder a Copa? Provavelmente. Mas o desastre acachapante não deve ser entendido
somente dentro do gramado. De certa forma, o povo brasileiro desejou isto. O
povo não quis (pelo menos inconscientemente) que uma vitória no futebol fosse
usada como compensação pela incompetência
e subdesenvolvimento de nosso país, além dos inúmeros erros de gestão e
desonestidade de nossos governantes. Sentimentos assim, intensos, ambivalentes em outras culturas se voltariam contra o próprio governo. No Brasil se voltaram, com toda sua carga negativa, contra a Seleção.
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