DERROTA E APAGÃO EMOCIONAL.
Ficamos todos chocados. O choque emocional pode ser aliviado
pelo choro, negado com as piadas ou convertido em tristeza. Não chorei, fiz
muita piada e minha tristeza durou pouco (talvez pela experiência acumulada ao
longo dos anos por outras derrotas). Agora, restabelecido, é o momento de
procurar compreender minimamente o que houve, hoje, no Mireirão.
Para não ficar em levitações,
vamos partir dos fatos. Fato número um: o time da Alemanha se mostrou excelente
tática e tecnicamente, dando um banho no time brasileiro. Fato número dois: o
time brasileiro jamais se acertou nesta copa, tendo vencido mais acidentalmente
do que por uma dinâmica forte e envolvente. Fato número três: o futebol é um
jogo de probabilidade, jamais de certezas. Com base nesses fatos, está explicado
esse 7 x 1 para a Alemanha? A resposta é NÃO! E a razão deste post é tentar
desvelar o que mais contribuiu para esse resultado e que ultrapassa o puramente
futebolístico.
Afirmei, sinteticamente, em um
outro post que o chororô dos jogadores brasileiros era o choro de chegada daquele tipo de choro que ocorre quando a
pessoa alcança algo muito difícil e desejado e vê, nesse momento, aquele
filmete de sua vida e todos seus esforços despendidos para chegar a esse ponto.
Afirmei, também, que essa disposição chorosa ficava em contradição com os
objetivos do presente, que seria o de vencer a Copa, afinal a predominância
emocional do “cheguei” desloca a do “vou vencer a Copa”, criando uma ambivalência
paralisante, que pôde ser muito bem observada quando o capitão Thiago Silva se
recusou a bater pênaltis contra o Chile, por “razões emocionais”. Já se
percebia aí a marcha do medo!
Esse quadro foi muito agravado
pela perda de dois jogadores fundamentais ao modelo definido pelo técnico:
Thiago Silva, zagueiro e capitão do time e Neymar, nosso craque inconteste. Eu
não me refiro aqui somente à perda puramente técnica, mas ao agravamento das
condições emocionais do time. Ocorreu, a partir do último jogo, um fato muito
estranho, fruto de um jornalismo ignorante. Começaram a ser difundidas opiniões
de jornalistas e analistas esportivos de que a perda do Neymar iria motivar o
time, que, livre de cobranças, poderia praticar um futebol muito superior ao
apresentado até então. Para mim, essa opinião era verdadeiramente bocó: como e
porque um time perde seu melhor jogador e vai jogar melhor, qual a lógica
disso? Seria o mesmo que afirmar que se a Argentina perde o Messi irá jogar
melhor! Dessa forma, a pressão sobre os nossos jogadores aumentou, em vez de diminuir.
Aumentou muito a pressão e reduziu muito nossa capacidade técnica para fazer
frente ao desafio.
Quando a Alemanha marcou seu
primeiro gol, o time brasileiro ficou atônito, aéreo mesmo. É como se não
acreditasse (não podiam acreditar, estavam apavorados) no que estava ocorrendo
e, por isso, não esboçou reação. À medida que os gols se sucediam, o estado de
letargia dos nossos jogadores aumentava. À percepção da deficiência técnica
somou-se a ambivalência emocional, levando nossos jogadores à quase catatonia,
como quando se tem um pesadelo com um monstro apavorante e você tenta correr,
fugir e não consegue. Mas ali era um estádio, o time não poderia correr e nem poderia destruir o
monstro. Tinha de jogar futebol
Enfim, nosso time estava
apavorado, já fora do gramado; e paralisado, no momento do jogo. Nessas
condições, o resultado, acreditem, poderia ter sido ainda pior. Lembrando mais
uma vez Freud, em vez do prazer de competir, nossos atletas ficaram emparedados
pelo medo de perder.
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