quinta-feira, 17 de setembro de 2009

LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE: HÁ VERDADE NESSE LEMA MODERNO?





Vivemos, hoje, a plenitude do discurso do igualitarismo. São artistas, intelectuais, jornalistas etc etc a bradar bordões contra as desigualdades, que oprimem e tornam o mundo injusto, insuportável e tal. Afirmar que os homens devem ser iguais e que essa igualdade é a garantia da liberdade, cala fundo em nosso espírito. O ser humano essencialmente ama a justiça e a liberdade e, por isso, nosso espírito recebe o discurso do igualitarismo com grande acatamento e apreço.

Mas quando se afirma a igualdade entre os seres humanos, de quê estamos falando mesmo? E, seja lá o que for essa igualdade, seria ela compatível com a liberdade? Voltemos um pouco na história para entender o estado da questão.
Se formos buscar as origens da idéia de igualdade como guia-mestra da justiça, chegaremos ao próprio Cristo e, antes d`Ele, aos gregos (adiante se verá em que medida essa afirmação é confirmada pelos fatos). Modernamente, esse marco foi estabelecido pela revolução francessa, com seu lema "Liberté, Égalité, Fraternité”, lema este logo depois adotado pela Maçonaria francesa e difundido por todo o globo, acabando por se tornar seu lema universal. Aqui há uma correção a ser feita sobre o que foi dito. Na verdade, o lema original da revolução francesa era "liberté, egalité ou la mort". Somente com a chamada 2ª República, em 1848, (quase sessenta anos após a eclosão do movimento revolucionário) é que o termo “la mort” foi substituído por “fraternité”. Essa alteração não foi fortuita, mas responde às dificuldades em combinar igualdade com liberdade. Sabe-se que a revolução francesa guilhotinou mais de cem mil pessoas em pouco tempo. Simplificadamente, se pode afirmar que, não logrando êxito em conciliar o seu “liberté” com o “egalité”, sobrou aos revolucionários o seu “la mort”, que teve de ser substituído pelo “fraternité”, para acabar com a matança. Mas por que? Que dificuldade insuperável há em conciliar igualdade com liberdade?

Começo pelas dificuldades em precisar o conceito de igualdade. Parece que há acordo entre os biólogos de que temos uma igualdade genética. Mas essa igualdade genética não garante igualdade corporal e psíquica. Uns são baixos, outros, altos; uns negros, outros, brancos, outros, amarelos, outros tantos, mestiços; uns tem capacidade atlética, outros, intelectual, outros, intermediárias; uns são mais bonitos, outros, muito feios. Todas estas “desigualdades” produzem efeitos comportamentais e desiderativos que tornam cada ser humano único, portanto, diferente. Senão, vejamos: uns querem estudar, outros jogar bola, ver novela ou namorar. Uns querem a engenharia, outros a medicina, ou a administração, ou jogar cartas. Uns lutam para se enriquecerem, outros lutam por um grande amor; um ama a Joana, mas não é correspondido, outro ama a Maria que lhe corresponde. Enfim, cada um deseja e luta por uma coisa que é somente sua. Para que todos fossem iguais, dever-se-ia controlar seu desejo. A base do igualitarismo é o desejo controlado. Ora isso somente é possível mediante a supressão da liberdade. Um mundo em que o desejo pessoal é controlado por um agente externo não é um mundo de liberdade, mas de opressão.

E aqui nos deparamos com as dificuldades encontradas pelos revolucionários de 1789: não há como conciliar igualdade com liberdade. Se sou livre, sou livre para ser diferente; se tenho que ser igual, onde está minha liberdade?

Essa incompatibilidade já foi demonstrada pela história. A partir das dificuldades da Revolução Francesa, o mundo tomou dois caminhos diversos: uma parte privilegiou a liberdade, em detrimento da igualdade; outra parte, privilegiou a igualdade, em detrimento da liberdade. Não é à toa que durante todo o século XX o mundo tenha se dividido entre o liberalismo (liderado pelos EUA) e o comunismo (liderado pela extinta URSS). A queda do bloco comunista com a dissolução da URSS, e a restauração das autonomias nacionais, parece ter indicado o caminho da liberdade. De fato, a única igualdade possível é a igualdade perante as leis, toda a igualdade que compulsoriamente vai além, produz opressão.

Mas porque o discurso igualitarista/libertador retorna se já fracassou, tão definitivamente?

É difícil saber porquê pessoas insistem em algo fracassado. Talvez por teimosia. Talvez por ignorância do fracasso (muitas pessoas não têm conhecimento dos fatos acima narrados) e, por fim, porque para certas pessoas não houve fracasso algum, mas um objetivo calculado que não foi alcançado por acidente de percurso. Trata-se, pois, de uma posição capciosa, malandra, de quem esconde seus reais objetivos. Nesse caso, os sectários dessa posição sabem muito bem que um sistema igualitarista irá suprimir a liberdade, mas não se importam, pelo contrário, perseguem mesmo a meta de supressão da liberdade. Mentes tiranas odeiam a liberdade, a lei, a democracia. São legiões, lobos em pele de cordeiro, que ciclicamente retornam para perpretar seu intento nocivo, como o demonstra a experiência histórica. Assistimos hoje, especialmente no Brasil, a uma profusão de “humanistas” de fachada, com discurso igualitarista, mas que anseiam pela destruição da democracia e da liberdade. Atentai!

Edson Moreira

sábado, 22 de agosto de 2009

SANHA AUTORITÁRIA

editorial de o globo
Sob tutela

Quando uma doutrina autoritária chega ao poder, ela pode se expressar de várias formas, e até, à primeira vista e formalmente, dentro da lei. Há medidas tomadas, nas esferas federal e estadual, em que são bastante visíveis as impressões digitais de um tipo de visão segundo a qual a sociedade precisa ser vigiada, tolhida e, se for o caso, punida, para adotar "bons costumes".

A questão da proibição do fumo em qualquer espaço público comercial, em São Paulo e agora no Rio, é emblemática. Lastreada em propósitos louváveis - a preser-vação da saúde -, a proibição, por radical, cassa o direito do fumante, ao suprimir as áreas antes reservadas para ele.

Outra característica desta doutrina autoritária é eximir o Estado de responsabilidades, punindo terceiros por delitos configurados como tais por este tipo de norma. No caso do fumo, a punição recai sobre o dono do bar, do restaurante, do que seja. Em vez de o poder público se responsabilizar pela repressão, ela é transferida, por imposição pecuniária, a outros.

O mesmo ocorreu na louvável repressão ao uso do álcool por motoristas. Em vez de se ampliar a fiscalização policial nas estradas, tentou-se proibir a venda de bebidas no comércio à margem das rodovias, em prejuízo dos lojistas. Quase, também, fizeram o mesmo com as lojas de conveniência urbanas.

O novo enquadramento das farmácias é típico. Por determinação da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Ministério da Saúde, os estabelecimentos passam a ser proibidos de vender mercadorias que não sejam medicamentos. A decisão carece de lógica, por ser risível o argumento do combate à automedicação. Mais uma vez, pune-se o empresário porque o Estado não consegue fazer cumprir a regra da obrigatoriedade de receita médica para certos remédios.

A mesma Anvisa, por causa deste viés autoritário, move intensa cruzada contra a publicidade de medicamentos - as de antigripais foram suspensas por causa da gri-pe suína - e de alimentos para crianças. Ou seja, os pais e as pessoas em geral precisam ser contidas na ânsia consumista, pois não têm discernimento para decidir o que é bom para a família.

A visão de um Estado tutelador de uma sociedade tida pela autoridade pública como infantil e imatura também transparece na ação do Ministério da Saúde de fazer desaparecer o antiviral Tamiflu das farmácias, eficaz droga contra a gripe suína, supostamente também para evitar a automedicação. Não é leviandade pensar que pessoas possam ter morrido pela falta do remédio nas prateleiras do comércio, somada à incapacidade de o Estado distribuí-lo pela rede pública.

O Brasil vive uma fase kafkiana: há liberdade, democracia, mas direitos individuais, inscritos na Constituição, começam de forma crescente a ser tolhidos por normas, portarias e leis redigidas alegadamente para defender a população. O Estado quer trancar a sociedade numa redoma, em nome da segurança dela, e ficar com a chave.



(Editorial de O Globo, dia 22 de agosto)

domingo, 21 de junho de 2009

PODE O RICO SER BONDOSO E O POBRE PERVERSO?

O título deste artigo é abertamente uma pergunta vazia. Do ponto-de-vista lógico é óbvio que há ricos com várias qualidades e pobres sem qualidade alguma. Isso é uma verdade auto-evidente.
Mas sendo uma constatação óbvia, qual o sentido de trazer o tema para estes escritos? Respondo: porque apesar de auto-evidente no plano lógico, tal verdade não compõe a nossa disposição psicológica. Psicologicamente, é como se não houvesse ricos bondosos ou pobres maldosos. Porque é assim no Brasil? A pergunta se desdobra: quando, como e por que no Brasil uma verdade psicológica se descolou da verdade lógica? E, por fim, que conseqüências essa torção tem para a formação da “consciência nacional”?

A TORÇÃO

É claro, límpido e facilmente comprovável que, na dimensão psicológica, em nosso país, não pode haver ricos virtuosos, ou sua contra-parte, pobres torpes. Basta observar os noticiários, programas de rádio e tv etc, além da rede de informações provenientes das escolas e academias.
O linguajar popular é repleto de exemplos reforçadores dessa dicotomia. Expressões como “sou pobre, mas sou limpinho”, “morreu pobre, porém honesto”, “era uma pessoa extremamente pobre e boa”, “era rico, explorador e malvado”, “a riqueza é fruto da ganância” etc, etc. Se o rico comete um crime bárbaro é porque tem um caráter perverso (o que está certo); se o pobre mata ou estupra é por "motivações sociais" (o que está errado).
O cinema, tv e teatro são outro campo em que a dicotomia pode ser sobejamente observada. Na dramaturgia tupiniquim, invariavelmente, o vilão é um rico inescrupuloso, um empresário mau-caráter, um fazendeiro bruto e ignóbil. Sem contar aí as vilãs, sempre fúteis ou maldosas. Ser rico vem sempre acompanhado de uma suspeição de base: “a riqueza foi amealhada por expropriação ou exploração de algum pobrezinho”.
Já o pobre é apresentado como possuidor de bom coração, generoso, caráter íntegro, divertido, etc, cujo azar na vida se constituiu em ser explorado por algum ricaço de plantão. Vejamos um exemplo. Talvez a novela mais marcante da televisão brasileira tenha sido “Roque Santeiro”. Pois bem, nela, o vilão é o ricaço truculento “Sinhozinho Malta”, cargo dividido com a vingativa “viúva Porcina”. E os heróis? Aha, esses eram “gente do povo”, exploradas numa trama surrealista. Isso não é uma exceção, esse modelo é um padrão. Basta observar criteriosamente nossas produções ditas “culturais”.
Outra observação: já viu algum filme brasileiro exaltar as virtudes de coragem e defesa da Lei dos policiais? Eu nunca vi. Aqui (na nossa dramaturgia), policial é sempre corrupto e bandido. Alguns ativistas chegam a sugerir que o mundo seria muito melhor, quase um Éden, se não existisse a polícia. (não se dão conta de que nesse “outro mundo possível” prevaleceria a ordem do mais forte e violento, como já ocorre nos guetos do tráfico, onde prevalece a vontade do chefe, execuções sumárias e crueldades impensáveis como o tal "microondas"). E por que é assim? Simplesmente porque a polícia é tida como instrumento de dominação dos ricos.
Das escolas e academias partem as informações mais bem acabadas e estruturadas. “O problema do Brasil é a concentração de renda (leia-se, os ricos)”, “o Brasil é um país dominado pelos ricos, esses seres abjetos”. “O Brasil precisa acabar com a exclusão" (obviamente os ricos é que desejam a exclusão e a perpetuam). Dá vergonha ser rico no Brasil! Como são os responsáveis pela miséria que viceja Nestas Terras, devem ser imolados em praça pública.
Ao contrário de outras tradições, como a americana e a européia, em que a riqueza é vista como sinal de competência e dedicação, qualidades fundamentais para o desenvolvimento da nação e da própria família, em nosso país, a riqueza é vista como responsável por todos os nossos males. Há mesmo pessoas, ditas intelectuais, muito influentes, que acreditam piamente que seríamos muito mais felizes retornando a um estágio pré-civilizatório, qual índios na relva, na campina e na mata. Nesse mundo edênico não haveria espaço para o demônio da riqueza!


AS CAUSAS DA TORÇÃO

Muito se poderia dizer a respeito de como essa tradição anti-rico floresceu entre nós, mas vou me concentrar nas motivações mais recentes e virulentas.
Embora essa tradição já venha de longa data, como reação ao poderoso colonizador lusitano, é certo que foi imensamente ampliada e potencializada pelos ativistas socialistas-marxistas, a partir de meados do século passado. A utilização de toda a classe intelectual no esforço revolucionário foi prevista e estimulada pelo ideólogo comunista italiano Antonio Gramsci.
Essencialmente, o teórico marxista apontava a precedência da vitória cultural sobre a transformação econômica socialista. Segundo ele, de nada adiantaria a mudança do controle econômico para a classe proletária se sua mentalidade continuasse a operar nos moldes capitalistas. Antes da mudança econômica, deveria ocorrer a transformação psicológica. A mentalidade das pessoas deveria ser dirigida, controlada, sem que se dessem conta, até que, amistosamente, pudessem se entregar ao ideário comunista. Daí a suprema importância dos intelectuais (jornalistas, escritores, professores, pedagogos, psicólogos etc), pois eles ditam a pauta e o tom dos meios de comunicação, além de condicionar, pelo discurso repetitivo, a formação dos jovens nas escolas e universidades. Curiosamente, esse condicionamento psicológico pavloviano é chamado de “conscientização”, sendo obviamente o contrário!
A partir das idéias de Gramsci, se pode entender o enorme e bem sucedido esforço da intelectualidade brasileira contra aqueles a quem chamam poderosos: os ricos! Não há produção intelectual, artística, jornalística que não venha impregnada, em menor ou maior grau, do binômio “pobre-bom; rico-mau”. Dessa forma, sem que se apercebam, as pessoas vão introjetando um conjunto de informações, visões de mundo, que as preparam para, a partir daí, aceitarem, como certas, quiméricas manipulações psicológicas, como o tema presente de julgar o caráter da pessoa pelo binômio riqueza-pobreza. Uma pessoa com a mente moldada dessa forma se tornará presa da sanha revolucionária e opositora do mundo democrático-liberal .



AS CONSEQUÊNCIAS PARA A FORMAÇÃO DA MENTALIADE BRASILEIRA

As conseqüências para a formação da mentalidade brasileira são deploráveis. Não ver o enriquecimento como virtuoso gera na pessoa uma corrente psicológica oposta que irá desviá-la do sentido do crescimento pessoal. A riqueza passa a ser percebida como uma fortuidade, para a qual em nada a conduta pessoal contribui, mas a sorte, o destino etc. Esse ponto é fundamental: a riqueza deve ser completamente desvinculada do esforço e atuação pessoais para poder ser repudiada como instrumento do crescimento pessoal.
Para a Nação brasileira sobra o caminho errático na solução dos problemas. Não se concebe superar o estágio atual de pobreza pelo estímulo ao trabalho, aos estudos, respeito às leis e empenho pessoal de cada um dos brasileiros, mas pela legitimação da inveja, do distributivismo e do vitimismo. É puro Brasil!
E as palavras precisam ser ditas: pobreza não é virtude. É somente um sinal de subdesenvolvimento pessoal e familiar que precisa de todo o empenho da geração mais jovem para sua superação. Penso que a melhor homenagem que o filho presta à educação que recebeu dos pais é enriquecer honestamente.
Ser rico não pode ser carta branca para desrespeitar as leis. Ser pobre não pode ser fonte de privilégios e de vitimismo!

domingo, 22 de março de 2009

“BURGUESINHA”: UM TANTO DE DOENÇA MENTAL A PRETEXTO DE CRÍTICA SOCIAL

Até que ponto uma produção da cultura popular, aparentemente inspirada e inteligente, pode ser veículo de expressão de uma doença mental? Se a pergunta for cabível, quais são os mecanismos psicológicos pelos quais a doença mental se transmuta, sorrateiramente, em produção “poética” de crítica social.

Para tentar iniciar um primeiro entendimento da questão, tomo como objeto a composição intitulada “Burguesinha” de autoria e cantada pelo autointitulado “Seu Jorge”. Recorro, parcialmente, à tradição psicanalítica na análise.
O autor, saudado como grande intelectual popular pelos comunicadores “sensíveis às questões sociais”, busca satirizar a vida banal de uma jovem “burguesinha”:

“Vai no cabeleireiro
No esteticista
Malha o dia inteiro
Pinta de artista

Saca dinheiro
Vai de motorista
Com seu carro esporte
Vai zoar na pista

Final de semana
Na casa de praia
Só gastando grana
Na maior gandaia

Vai pra balada
Dança bate estaca
Com a sua tribo
Até de madrugada”

A garota, como se vê, é apresentada como possuidora de uma existência absolutamente fútil, sem sentido e desprezível. Tudo o que faz é ironizado: cabeleireiro, esteticista, malhação, dinheiro, motorista, carro esporte ... Chega a ser irritante o quanto essa criatura é desprezível.

Contudo, o sensível poeta, ao que parece, não percebeu que o que a personagem rotulada faz é exatamente o mesmo que todas as jovens gostariam de fazer... se pudessem. Senão, vejamos. Qual garota saudável não gosta de ficar bonita (cabeleireiro, esteticista, academia...)? Qual garota normal não gosta de conforto (carro, casa de praia, dinheiro pra gastar...)?Qual a garota feliz que não gosta de diversão (baladas, amizades, passeios). Neste último aspecto, o que difere as jovens não é sua condição financeira, mas sua vinculação aos valores conservadores. Portanto, não é verdade que a rica, burguesinha na rotulação do autor, prefira gandaia e a pobre prefira as festas da igreja. Ou vamos agora esquecer de onde veio e o que se faz nos bailes “funks”? Há, também, um preconceito contra os jovens abastados. Como se só se prestassem às futilidades e diversões, quando, na realidade, a imensa maioria estuda e trabalha.

Assim, com base em lógica elementar, pode-se afirmar que o que o autor não suporta e tenta atingir com sua ironia não é o fato de que a “burguesinha” goste de levar uma vida plena de “futilidades”, vez que esse mesmo desejo é disseminado por todas as classes sociais, mas o fato de que a “burguesinha”, por poder, faz o que as demais desejam. O que maltrata a sensibilidade de nosso poeta é o fato de que há pessoas que alcançam o que desejam e podem levar a vida que querem, seja por mérito pessoal, seja por mérito familiar.

Há algo de ressentido aí, como se o autor, ele próprio, houvesse tido, provavelmente na infância, desejos frustrados profundamente marcantes que não foram elaborados.
Ao longo do desenvolvimento, deparamos com uma infinidade de frustrações e, geralmente, as pessoas superam essas angústias seguindo pela vida ainda mais fortes e preparadas para novos enfrentamentos. Certas pessoas, contudo, ou por terem recebido uma dose realmente insuportável de frustrações, ou por terem sua sensibilidade aumentada, não conseguem superar o estado de carência infantil, seguindo pela vida marcados por um núcleo íntimo de insegurança.

Essa triste realidade subjetiva pode, eventualmente, causar inveja daquelas pessoas que aprenderam a gostar da vida que tem e de serem o que são, apesar do passado difícil.

E aqui podemos entender melhor a motivação do autor. Sabemos ser a inveja um sentimento humilhante para quem o experimenta. A pessoa consciente de sua inveja sente-se mal, inferior, negativa e envergonhada. Quando esse sentimento é muito intenso, pode ocorrer aquilo que Freud denominou de “repressão”: expulsão para o inconsciente de um sentimento insuportável pela consciência. Tivesse o autor procedido somente a repressão, a coisa ficaria somente no âmbito de sua intimidade. Contudo, por outras complicações egóicas, nosso valente guerreiro houve de proceder, em complemento, o mecanismo de defesa do ego chamado por Freud de “racionalização”. Trata-se, a racionalização, de um discurso justificador encobridor do elemento reprimido, no caso, a inveja. Nada melhor que um pretenso senso de “justiça social”, sacanear os ricos – tão bobos e estúpidos – para encobrir a motivação invejosa de base. Esse tipo de discurso tem, ainda, o reforço do elogio da “mídia consciente” levando todo o processo de racionalização a uma satisfação do ego, fazendo com que o autor se sinta realmente alguém especial, quem sabe um moderno justiceiro da poesia, quando, na realidade, sua poesia-sátira foi produto do lado mais obscuro de sua mente ressentida.

Edson Moreira

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A CIÊNCIA,O DARWINISMO E OS VALORES

As relações entre ciência e valores morais nunca forsm pacíficas, embora também nunca totalmente divorciadas, tendo, ao longo da história, marcado o desenvolvimento científico.

Aristóteles, talvez o maior dos filósofos, intuía o problema. Apesar de ter trazido a ciência de então para o contexto da observação, retirando-a da exclusividade da metodologia racional-especulativa, o que representou um poderoso avanço no estudo científico dos fenômenos naturais, o estagirita parou aí na observação, jamais tendo avançado na matematização da observação.

Não está claro porque não o fez, certamente não foi por falta de conhecimentos matemáticos. Malgrado as deficiências dos instrumentos de medição, mais provável é que o grande filósofo não confiava deixar os resultados da pesquisa serem decididos pelas relações matemáticas entre os fenômenos. Achava a avaliação dos dados da observação uma tarefa para a razão (metodologia da causalidade múltipla: causa material, causa eficiente, causa formal e causa final). Somente com esse sofisticado instrumento racional julgava poder avaliar todas as dimensões e conseqüências dos achados científicos.

Essa prudência não teve Galileu ao estatuir a ciência moderna (séc XVI). Na esteira renascentista, o grande matemático italiano propôs que a ciência para alcançar resultados verdadeiros deveria evitar o programa lógico-observacional de Aristóteles e se ater simplesmente à grandeza mensurável dos fenômenos. Galileu retoma a tradição pitagórica do número: “a linguagem do universo é a matemática”. Assim fazendo, o pai da ciência moderna põe de lado toda a reflexão racional sobre motivos morais (o que sempre era suscitado na metodologia aristotélica das causas finais). Alcança-se assim a separação entre o saber científico e o saber moral.

Deixar, a ciência, livre dos “constrangimentos morais” funcionou como uma poderosa alavanca que acelerou, como nunca antes, a busca de explicação dos fenômenos naturais por seus antecedentes naturais. O homem de ciência embarcou nessa aventura com tamanha vontade e dedicação que, em pouco tempo (se considerados os séculos de predomínio da ciência grega e do pensamento escolástico), a ciência se tornou a forma mais difundida, mais presente, mais precisa e, por isso, mais valorizada de conhecimento humano, deixando as reflexões de ordem moral para o pensamento filosófico-teológico e restringindo a teologia a uma espécie de gueto epistemológico do misticismo, distante dos problemas práticos da vida comum.

A fascinante aventura da ciência moderna se avolumou e pujante chegou aos dias atuais consagrada como o saber certo e confiável que domina a nossa vida, em todos os campos.

Todo esse sucesso parece ter levado o homem moderno a acreditar que pudesse suprir com a ciência toda a necessidade de conhecer. Toda dúvida, todo problema deverão, com o tempo, ter uma resposta da ciência: completa e definitiva (afinal, não era esse o programa positivista de Conte?)!
Isso nos trás para o tema central desta reflexão. Pode mesmo o conhecimento científico ser um empreendimento “amoral”?. Se esse ideal cientificista for levado a cabo, isso não tornará o mundo mais imoral?

Para tentar responder, ainda que de forma provisória, a essa questão, trato das idéias de Charles Darwin, que ora está a movimentar toda a comunidade científica e a mídia pela comemoração de seu bicentenário.

Como se sabe, Darwin, homem de ciência por excelência, propôs que as espécies animais não são criaturas estáticas desde sempre, mas variavam ao longo da filogênese, evoluindo de acordo com as características predominantes nos indivíduos mais aptos das espécies. Assim, os indivíduos que portam um diferencial evolutivo têm seus genes preservados nas gerações futuras, acabando por marcar a evolução de toda uma espécie. Um exemplo pode ajudar a aclarar o postulado teórico darwiniano. Seja a seguinte situação: em uma determinada região de florestas, há uma espécie de animal (um quadrúpede terrestre) que se alimenta dos frutos de uma árvore de pequeno porte. Dessa forma, o nosso animal fictício não precisa fazer grande esforço para obter seu alimento. Contudo, em determinado momento, por um acidente físico (uma seca muito prolongada) ou biológico (pragas sucessivas) a nossa pequena árvore é extinta na região. Resta ao nosso animal fictício fazer um grande esforço, esticando o pescoço, para apanhar o alimento em árvores mais altas, que foram as que restaram na região. Entre os indivíduos da nossa espécie fictícia, havia uma variação no tamanho do pescoço, e obviamente aqueles de pescoço mais longo levavam vantagem na hora de coletar o alimento. Além dessa facilidade, que permitia a economia de energia aos animais de pescoço longo, os animais de pescoço curto começaram a perecer em função de inflamações na cervical (excessiva extensão). Com o tempo, após várias e várias gerações, já não nasciam mais animais de pescoço curto. A seleção natural houvera sido feita em favor dos animais de pescoço longo!
Aplicando o mesmo postulado à espécie humana, pode-se entender que os indivíduos com diferencial evolutivo teriam seus genes preservados pelas gerações futuras, enquanto aqueles desfalcados desse diferencial pereceriam e não lograriam legar seus genes às gerações futuras. Que conseqüências teria essa aplicação darwiniana para a espécie humana?
Sobre isso, deixo o próprio Darwin falar:


“Entre os selvagens, os fracos de corpo ou mente são logo eliminados; e os sobreviventes geralmente exibem um vigoroso estado de saúde. Nós, civilizados, por nosso lado, fazemos o melhor que podemos para deter o processo de eliminação: construímos asilos para os imbecis, os aleijados e os doentes; instituímos leis para proteger os pobres; e nossos médicos empenham o máximo da sua habilidade para salvar a vida de cada um até o último momento... Assim os membros fracos da sociedade civilizada propagam a sua espécie. Ninguém que tenha observado a criação de animais domésticos porá em dúvida que isso deve ser altamente prejudicial à raça humana. É surpreendente ver o quão rapidamente a falta de cuidados, ou os cuidados erroneamente conduzidos, levam à degenerescência de uma raça doméstica; mas, exceto no caso do próprio ser humano, ninguém jamais foi ignorante ao ponto de permitir que seus piores animais se reproduzissem.”

Peço que releiam a citação. Darwin afirma, sem meios termos, que é um erro (um contra-senso científico “altamente prejudicial à raça humana”) que o homem civilizado proteja os indivíduos “imbecis, aleijados e doentes”. Aponta a solução praticada pelos povos primitivos como muito mais acertada que a do homem civilizado: eliminação dos fracos “de corpo e de mente” e proliferação dos saudáveis e vigorosos.

Obviamente, a proposta darwiniana é eugenia explícita (fortalecimento da raça pela eliminação dos deficientes e “contaminados” por outras raças).

Ora, o que vemos no mundo ocidental (judaico-cristão) é o contrário da proposta científica de darwin. Cada vez mais as pessoas portadoras de toda a sorte de deficiências vêm recebendo apoio, tratamento e formação que as têm tornado, de fato, capazes de contribuir para a sociedade, além de desenvolver uma vida pessoal plena. Cegos, surdo, deficientes mentais, tetraplégicos, portadores de síndromes neurológicas várias, bem apoiados desde a infância se mostram plenamente capazes, na maioria das vezes, de ajudar sua comunidade e não precisam ser vistos como um peso para suas famílias. Há casos de portadores de síndrome de Down que já conseguem concluir o curso superior (desenvolvimento impensável há um século).

Pode-se, agora, indagar: se a posição cientificista-darwiniana prega a eliminação dos deficientes como fator de progresso da civilização, qual é a força que, não sendo a ciência, propõe o justo contrário: apoiar o desenvolvimento dos deficientes até o limite de seu potencial?

Pois bem, essa força que não está presente na ciência moderna, é a moral cristã. O cristianismo (res)estabelece a aliança do homem com Deus, tornando cada pessoa humana merecedora da vida que o Criador lhe destinou. A vida é dom de Deus e deve, pois, ser valorizada não importa qual seja sua limitação. Doença, deficiência, limitações físicas ou mentais, não importam: tudo deve ser feito para preservá-la do princípio ao fim. Se é possível entender o desejo do Pai, certamente Ele não quer que o progresso da civilização se dê pela eliminação dos fracos, mas pelo apoio para que cada um (deficiente ou não) possa superar suas limitações e alcançar a felicidade.

Estas considerações de ordem moral constariam das reflexões científicas que contemplassem as “causas finais”. Deixados os “fatos científicos” aos sabor de suas singelas explicações naturais, não teríamos hoje o pleno desenvolvimento e inclusão das pessoas deficientes, mas a marcha imoral da eliminação dos mais fracos!

Resta uma reflexão: onde mais isso pode estar ocorrendo?

Edson Moreira

domingo, 11 de janeiro de 2009

O CONFLITO DE GAZA E OS “ESCUDOS HUMANOS”



O CONFLITO DE GAZA E OS “ESCUDOS HUMANOS”


Certa vez, um parlamentar americano disse uma frase que ficou nos anais da história como emblemática da relação guerra e informação. A frase diz: “a primeira vítima de uma guerra é a verdade”, nos alertando, para sempre, que, paralelamente a uma guerra bélica, ocorre uma guerra de informações. O nacional socialismo de Hitler, e o comunismo de Lênin, Stalin, Mao, Fidel Castro, entre outros, parecem ter sido a fonte de inspiração do frasista em questão. A guerra da propaganda, desde então, só fez aumentar em importância, chegando, atualmente, em certos casos, ser o objetivo principal de uma ação belicosa.
Parece mesmo ser o caso do grupo terrorista e antissemita HAMAS que domina a faixa de Gaza, ao sul de Israel, onde ora se processam intensos combates, com a conseqüência de vítimas civis.

ENTENDENDO O CASO

Até há três anos, Israel ocupava a faixa de Gaza militarmente. Em razão de um programa de pacificação que estava em gestação com a AP (Autoridade Palestina), Israel se retirou da área. Em seguida à sua saída, o grupo terrorista HAMAS derrotou o partido FATAH e assumiu o controle de todo o território de Gaza. A partir de sua ascensão ao poder esse grupo extremista lançou sobre as cidades israelesnses aproximados 3.500 (três mil e quinhentos) mísseis, ao longo dos últimos três anos.
Obviamente, por mais paciência que tivesse, Israel não poderia suportar indefinidamente os ataques a seus território e população e acabaria por reagir. Isso o HAMAS sabia. Isso a ONU sabia. Isso a comunidade internacional sabia.
Mas se era previsível a reação de Israel, por que o HAMAS não recuou de seus ataques?
Aqui entra na equação da guerra, a contabilidade da informação. A perda militar seria recompensada com um ganho, incomparavelmente maior, na guerra da propaganda. E esta o HAMAS já ganhou, definitivamente. Basta passar olhos pelos jornais impressos, telejornais e radionotícias para se criar uma convicção da maldade incomensurável que representa o estado dos descendentes de Moisés.

A ESTRATÉGIA VERGONHOSA DO HAMAS

Israel combate em um dos territórios mais densamente povoados do planeta. São 1,5 milhão de pessoas distribuídas em pequenas vilas, caracterizadas por vielas e uma arquitetura mais próxima do que conhecemos por favela urbanizada. Localizar e destruir alvos militares sem atingir nenhum civil é o exercício do impossível. O HAMAS sabe dessa dificuldade e cuida de complicar as ações israelenses estabelecendo uma estrutura de mísseis pequenos e de alta mobilidade. Assim, uma base lançadora em um dia pode estar em uma rua; em outro, em uma praça; em outro, em uma escola. Não são alvos fixos e “limpos”.
Dificultar as ações do inimigo é da natureza de toda e qualquer guerra. Mas em Gaza algo monstruoso vem sendo praticado. Os terroristas do HAMAS colocam crianças (especialmente meninas) ao lado das plataformas de lançamento de mísseis, de sorte que, ao ser atingido o alvo, vítimas infantis são produzidas e depois mostradas para as redes de TVs e jornais. Houve uma situação em que uma determinada residência, que funcionava como plataforma de lançamento, seria alvo de ataque de Israel. O comandante da operação informou à família que morava nessa casa (7 pessoas), dando-lhes 30 min. para evacuarem o local. O que fez o HAMAS? Levou mais de 20 crianças para a laje da construção para inibir o ataque.

ESCUDOS HUMANOS MIDIÁTICOS

Ao expor crianças (especialmente,meninas) o HAMAS pratica um ato covarde, criminoso e imoral em muitos sentidos, senão vejamos:
1 – covarde porque diante do perigo coloca a criança na frente do adulto. Qualquer pessoa com um mínimo de decência se atira na frente para defender uma criança inocente;
2 – criminoso porque as crianças são colocadas ali para morrerem. O HAMAS sabe disso e espera por isso;
3- imoral porque calcula a morte das crianças para exposição midiática.

Aqui vem uma última reflexão: um grupo terrorista que dispõem estrategicamente suas crianças, não para defendê-las, mas para morrerem; que tem como princípio básico a eliminação de Israel e a morte de todos os judeus deve ser recebido para negociações de Paz? A quem esses “pacifistas” pretendem enganar?




Montagem midiática (1) – mãe se apresenta aos fotógrafos, previamente contratados, para uma sessão de fotos, em que expia sua dor pela perda de uma filha. (extraído do blog do Reinaldo Azevedo).





Montagem midiática (2) – criança devidamente “maquiada” para fotos publicitárias do HAMAS. Observe a bonequinha suja de sangue em uma das mãoes e o pão seco na outra - não é pra doer o coração? (extraído do blog do Reinaldo Azevedo).

domingo, 4 de janeiro de 2009

LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE!

HÁ VERDADE NESSE LEMA MODERNO?


Vivemos, hoje, a plenitude do discurso do igualitarismo. São artistas, intelectuais, jornalistas etc etc a bradar bordões contra as desigualdades, que oprimem e tornam o mundo injusto, insuportável e tal. Afirmar que os homens devem ser iguais e que essa igualdade é a garantia da liberdade, cala fundo em nosso espírito. O ser humano essencialmente ama a justiça e a liberdade e, por isso, nosso espírito recebe o discurso do igualitarismo com grande acatamento e apreço.


Mas quando se afirma a igualdade entre os seres humanos, de quê estamos falando mesmo? E, seja lá o que for essa igualdade, seria ela compatível com a liberdade? Voltemos um pouco na história para entender o estado da questão.
Se formos buscar as origens da idéia de igualdade como guia-mestra da justiça, chegaremos ao próprio Cristo e, antes d`Ele, aos gregos (adiante se verá em que medida essa afirmação é confirmada pelos fatos). Modernamente, esse marco foi estabelecido pela revolução francessa, com seu lema "Liberté, Égalité, Fraternité”, lema este logo depois adotado pela Maçonaria francesa e difundido por todo o globo, acabando por se tornar seu lema universal. Aqui há uma correção a ser feita sobre o que foi dito. Na verdade, o lema original da revolução francesa era "liberté, egalité ou la mort". Somente com a chamada 2ª República, em 1848, (quase setenta anos após a eclosão do movimento revolucionário) é que o termo “la mort” foi substituído por “fraternité”. Essa alteração não foi fortuita, mas responde às dificuldades em combinar igualdade com liberdade. Sabe-se que a revolução francesa guilhotinou mais de cem mil pessoas em pouco tempo. Simplificadamente, se pode afirmar que, não logrando êxito em conciliar o seu “liberté” com o “egalité”, sobrou aos revolucionários o seu “la mort”, que teve de ser substituído pelo “fraternité”, para acabar com a matança. Mas por que? Que dificuldade insuperável há em conciliar igualdade com liberdade?

Começo pelas dificuldades em precisar o conceito de igualdade. Parece que há acordo entre os biólogos de que temos uma igualdade genética. Mas essa igualdade genética não garante igualdade corporal, psíquica. Uns são baixos, outros, altos; uns negros, outros, brancos, outros, amarelos, outros tantos, mestiços; uns tem capacidade atlética, outros, intelectual, outros, intermediárias; uns são mais bonitos, outros, muito feios. Todas estas “desigualdades” produzem efeitos comportamentais e desiderativos que tornam cada ser humano único, portanto, diferente. Senão, vejamos: uns querem estudar, outros jogar bola, ver novela ou namorar. Uns querem a engenharia, outros a medicina, ou a administração, ou jogar cartas. Uns lutam para se enriquecerem, outros lutam por um grande amor; um ama a Joana, mas não é correspondido, outro ama a Maria que lhe corresponde. Enfim, cada um deseja e luta por uma coisa que é somente sua. Para que todos fossem iguais, dever-se-ia controlar seu desejo. A base do igualitarismo é o desejo controlado. Ora isso somente é possível mediante a supressão da liberdade. Um mundo em que o desejo pessoal é controlado por um agente externo não é um mundo de liberdade, mas de opressão.


E aqui nos deparamos com as dificuldades encontradas pelos revolucionários de 1789: não há como conciliar igualdade com liberdade. Se sou livre, sou livre para ser diferente; se tenho que ser igual, onde está minha liberdade?

Essa incompatibilidade já foi demonstrada pela história. A partir das dificuldades da Revolução Francesa, o mundo tomou dois caminhos diversos: uma parte privilegiou a liberdade, em detrimento da igualdade; outra parte, privilegiou a igualdade, em detrimento da liberdade. Não é à toa que durante todo o século XX o mundo tenha se dividido entre o liberalismo (liderado pelos EUA) e o comunismo (liderado pela extinta URSS). A queda do bloco comunista com a dissolução da URSS, e a restauração das autonomias nacionais, parece ter indicado o caminho da liberdade. De fato, a única igualdade possível é a igualdade perante as leis, toda a igualdade que compulsoriamente vai além, produz opressão.

Mas porque o discurso igualitarista/libertador retorna se já fracassou, tão definitivamente?

É difícil saber porquê pessoas insistem em algo fracassado. Talvez por teimosia. Talvez por ignorância do fracasso (muitas pessoas não têm conhecimento dos fatos acima narrados) e, por fim, porque para certas pessoas não houve fracasso algum, mas um objetivo calculado que não foi alcançado por acidente de percurso. Trata-se, pois, de uma posição capciosa, malandra, de quem esconde seus reais objetivos. Nesse caso, os sectários dessa posição sabem muito bem que um sistema igualitarista irá suprimir a liberdade, mas não se importam, pelo contrário, perseguem mesmo a meta de supressão da liberdade. Mentes tiranas odeiam a liberdade, a lei, a democracia. São legiões, lobos em pele de cordeiro, que ciclicamente retornam para perpretar seu intento nocivo, como o demonstra a experiência histórica. Assistimos hoje, especialmente no Brasil, a uma profusão de “humanistas” de fachada, com discurso igualitarista, mas que anseiam pela destruição da democracia e da liberdade. Atentai!

Edson Moreira