domingo, 17 de junho de 2007

ABOLIÇÃO DAS AVALIAÇÕES E O DECLÍNIO DA QUALIDADE DO ENSINO

Deu no Ex-Blog do Cesar Maia 11/06/2007

“CICLOS: CONSELHO GERAL DE ENSINO DA GB QUER ADOTAR EM GERAL!
The Guardian, 9/06/2007-. ( www.guardian.co.uk ) Todos os exames devem ser abolidos para crianças menores de 16 anos, por causa do estresse provocado e que faz com que os alunos se insurjam contra a própria educação, segundo um conceituado corpo de professores. Num ataque notável à política do governo britânico de prosseguir com a política de exames para crianças a partir do primeiro ano primário, o Conselho Geral de Ensino está clamando por "uma revisão urgente e fundamental do regime de provas". Num relatório, o Conselho afirma que os exames não estão resolvendo a implementação de padrões de educação, levando as crianças à desmotivação e ao estresse, além de encorajar os adolescentes atingidos a abandonar a escola.”

COMENTO
Essa guerra contra as provas e outras formas de avaliações começou com a pedagogia chamada humanista, que tomou corpo no início dos anos 60 e acabou por dominar em todo seu espectro o construtivismo, a filosofia educacional com maior ênfase no Brasil. A pedagogia humanista é aquela mesma que tornou famosa uma experiência educacional inglesa: A Escola de Summerhill.
O fundador da escola, A. Neill, acreditava que coerções, direcionamentos, punições, frustrações constituem uma “educação pelo medo”. Por isso, uma educação democrática e libertadora deveria investir na capacidade que cada criança tem de decidir o que quer, quando quer e como quer no âmbito educacional. Tais pressupostos foram postos em prática na experiência de Summerhill. Nela, é a criança quem decide sobre o que deseja aprender: matemática, história, geografia, artes etc ou mesmo se só deseja recreação. Não raro acontece de alunos de 15/16 anos de idade ainda não saberem ler, escrever ou calcular com correção.
A Escola de Summerhil, embora fracassando, legou a um conjunto sempre crescente de intelectuais ativistas suas teses e bases teóricas, entre elas a idéia de que nenhuma avaliação feita por outro pode ter melhor qualidade que a própria auto-avaliação e de que a função da educação está subordinada à auto-expressão da criança. Daí para a abolição das avaliações foi um passo que não exigiu muito esforço.
Essas idéias foram integral ou parcialmente assumidas pela pedagogia brasileira.
O EQUÍVOCO
A idéia fundamental de que a criança deixada ao sabor de suas escolhas venha a fazer as escolhas mais compatíveis com a civilização não se confirmou na prática. Há na criança um núcleo impulsivo (tendência ao prazer imediato, diria Freud) que precisa ser controlado de fora (função paterna) para que o indivíduo aceda à cultura. Uma criança que não foi controlada de fora (heterocontrole) não alcança o autocontrole, tornando-se presa da impulsividade.
Essa idéia singela (uma função paterna controladora) presente em toda a evolução histórica da civilização precisou ser posta de lado para mostrar sua fundamentalidade. Os frutos da educação da autoexpressão, “a olho nu”, revelam uma juventude desorientada, muito mais disposta a resolver conflitos pela violência, proliferação da drogadição, prolongamento da adolescência e imensa dificuldade em assumir compromissos.
CONSEQUÊNCIAS PARA A EDUCAÇÃO
A conseqüência mais grave da abolição das provas é o mascaramento do aproveitamento escolar. As situações de subdesempenho não são detectadas gerando dois problemas extremamente graves. Primeiro, para o indivíduo, que, somente muito depois, perceberá sua condição inferior de aprendizagem e talvez já muito tarde para se animar a uma recuperação, acabando por evadir-se do sistema escolar.
O outro problema é para o sistema como um todo. Não detectando os problemas no tempo em que ocorrem, os gestores não podem intervir, redirecionando, corrigindo equívocos e imperfeições, findando em um rebaixamento geral de todo o sistema. Ocorre a perpetuação da ineficácia.
CONCLUINDO
Obscurecer as avaliações para evitar conseqüências desagradáveis para o aluno, como as reprovações, é falso remédio. Não se querer dizer ao aluno que ele ainda não está apto para avançar por temor de rebaixar-lhe a auto-estima é ilusão infantil. Amadurecer é conseqüência dos inevitáveis confrontos com a realidade, sem os quais o indivíduo se torna permanentemente infantil. Não é à toa que vivemos, hoje, um tempo em que os jovens apresentam enormes dificuldades para aceitação das limitações pessoais e para assumir responsabilidades.
Edson Moreira

sexta-feira, 8 de junho de 2007

REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL NO CHILE

Deu no blog do Cláudio humberto (www.claudiohumberto.com.br) hoje 08/06/2007 12:41. Retorno abaixo para comentar

"Chile reduz maioridade penal para 14 anos. A partir de hoje, dia 8, todos os jovens chilenos acima dos 14 anos de idade que cometam delitos vão enfrentar uma nova lei penal juvenil. Até agora, como no Brasil, os jovens delinqüentes e criminosos eram considerados inimputáveis. No Chile, a responsabilidade penal era aplicada apenas a partir dos 16 anos. O governo chileno agora realiza obras de infraestrutura nos centros fechados e semifechados do Serviço Nacional de Menores."

COMENTÁRIO
Curioso o esquerdismo brasileiro. É contra a redução da maioridade penal no Brasil, mas não dá nem um pio ao limite de 16 anos em Cuba e aos 14 anos no Chile (agora governado pela esquerdista Michele Bachelet).

É triste perceber que no Brasil há um clima de adulação, defesa e estímulo aos delinqüentes juvenis. É óbvio que essa conduta os leva a sentirem-se vítimas, aumentando seu ódio, ressentimento e comportamento agressivo. A instância moral interna (superego, como diria Freud) deixa de atuar como freio aos comportamentos agressivos e passa a justificá-los. O resultado é essa tragédia de 50.000 assassinatos por ano. Pode piorar? Pode.

E.M

quarta-feira, 6 de junho de 2007

LINGUAGEM POLITICAMENTE CORRETA, REALIDADE POSTIÇA E NEUROSE

Conforme afirma o filósofo Olavo de Carvalho, a mente humana não raciocina através de dados sensíveis, mas através de símbolos, especialmente os símbolos lingüísticos. Conquanto uma linguagem evolua naturalmente para a melhor correspondência possível com a realidade, meios artificiais interferentes podem alterar radicalmente sua capacidade representativa, criando uma realidade postiça, só existente no plano da linguagem. A partir desse ponto, o pensamento e o raciocínio ficam seriamente comprometidos.
Entre os artificialismos deturpadores da relação linguagem-realidade está o modismo politicamente correto.
Iniciado nos Estados Unidos, o modismo politicamente correto tomou forma e foi exportado para o mundo.
O distanciamento da realidade, sua truncagem e escotomas produzidos pela linguagem politicamente correta deriva para o ridículo, o humorístico e o autoritário toda a busca de conhecer e compreender a realidade. A realidade se torna inapreensível enquanto a linguagem vai-lhe tomando o lugar, até que, ao final, não sobra mais realidade para ser conhecida, somente uma linguagem para ser exercitada.
Alguns exemplos vêm a calhar: o cachaceiro se torna dependente de álcool, o assassino se torna condenado por homicídio, o mendigo se torna morador de rua, o impotente sexual se torna portador de disfunção erétil e, pasmem, anão se torna portador de nanismo. É tal o esforço para desidratar a palavra de seu referente concreto, elaborado através dos anos, pelos embates com a realidade sensível e filtragens culturais que, ao final, parecem, as palavras, entidades ideais saídas de um reino ainda inexplorado.
Embora tendo sido forjada pelo movimento esquerdista com declarado objetivo político, a linguagem politicamente correta somente se sustenta porque encontra eco em alguma necessidade psicológica ainda não devidamente esclarecida. Vou identificar essa necessidade naquilo que Freud chamou negação. A negação (denegação) é um dos mecanismos de defesa do ego, auxiliar da repressão, desta se distinguido pelo maior acesso do sentimento (ou pensamento ou desejo) reprimido à consciência. Enquanto na repressão o desejo tem seu acesso totalmente bloqueado à consciência, na negação o desejo já se faz percebido pela consciência, sendo, contudo imediatamente recusado por causar, ainda, grande sofrimento à pessoa.
Assim, por exemplo, uma pessoa que é realmente filha de uma puta, pode negar a relação para não sofrer uma tamanha dor moral (ser filho de uma puta deve, realmente, ser muito difícil de aceitar). Mas como negar um fato que é público e notório? Aí entra a linguagem politicamente correta. Muda-se de “filho da puta” para “filho de uma profissional do sexo”. Não podendo negar o fato, muda-se o nome do fato. Dessa forma, o sujeito não precisa tomar consciência plena da repugnância que tem por sua condição.
O modelo explicativo serve também para toda a variedade de substituições da linguagem politicamente correta. Um anão que não aceita a palavra anão, na verdade não aceita é sua condição de anão. Se nega e projeta no “outro” a hostilidade que é contra si.
A linguagem politicamente correta gera, em conclusão, uma falsa realidade, induzindo à neurose, vez que evita o doloroso, mas saudável confronto com as próprias limitações e com a realidade.
E.M.

domingo, 3 de junho de 2007

Escaramuças Chavez x Congresso brasileiro

Carta enviada ao "O Popular" criticando sua cobertura aos desacatos de Chavez à democracia e ao congresso brasileiro


Go 02/06/2007
Senhor Redator de “O popular” .
Cm relação à cobertura das escaramuças entre Hugo Chavez e o Congresso brasileiro feita por esse veículo democrático, que é “O Popular”, gostaria de apontar o tratamento editorial equivocado com que abordou a matéria. A edição de hoje afirma que as declarações de Chavez taxando o Congresso brasileiro de “papagaio dos Estados Unidos” foram repudiadas pelo presidente Lula. Não está correto. O presidente Lula se limitou a dizer “Chavez cuida da Venezuela, eu cuido do Brasil”. Onde está o repúdio aí? Sequer um reparo houve. A fala do presidente Lula foi absolutamente acaciana. Poderia ele dizer o contrário? Que Chavez cuidaria do Brasil e Lula da Venezuela? É preciso aprofundar na investigação da passividade do presidente Lula ante a safra de neopopulistas latinos, em especial em relação a Chavez. Seria por simpatia? Simpatia a Chavez não equivale a antipatia à democracia? Seria alguma espécie de acordo entre as esquerdas latinas e assim sendo, não configuraria crime o presidente agir segundo acordos transnacionais à revelia do Congresso brasileiro? São questões que estão em aberto e a necessitar de maior atenção de “O Popular”. Mais uma vez grato pelo espaço democrático
Edson Moreira Borges

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Carta aberta do professor Elcio Abdalla em 01/06/2007

A mensagem abaixo foi divulgada pelo professor Elcio Abdalla, diretor do Departamento de Física-Matemática, literalmente seqüestrado em seu direito de trabalhar e liberdade de ir e vir por um dos inúmeros grupos comuno-fascistas que grassam na Universidade e na sociedade brasileiras. Pela gravidade do fato (veja que Chaves mantém seu poder com base nesses grupos), reproduzo aqui sua denúncia.
Edson Moreira


Resumo: Mais um exemplo do comportamento da gang comuno-fascista que seqüestrou a USP e é acobertada por parte da grande mídia.

Caros Professores, estudantes, colegas e amigos,Venho tornar públicas ameaças gravíssimas de que fui vítima no dia de ontem. Estava na recepção da ABC (Academia Brasileira de Ciências) quando a senhora Amélia, secretária do Departamento de Física-Matemática, comunicou-me que elementos do Sintusp teriam entrado no departamento. O que é mais grave é que, no Instituto, gritavam meu nome com calúnias e palavras de ordem dizendo que "minha hora haveria de chegar".Segundo alguns estudantes, o "cortejo fúnebre" foi acompanhado por elementos externos à Universidade, havendo até mesmo um conhecido mendigo morador do Jardim Bonfiglioli e elementos do MST. Tal cortejo foi liderado pela senhora Neli, do Sintusp.Considero as autoridades universitárias responsáveis perante a Justiça por minha segurança pessoal, assim como de meus estudantes, secretárias, colaboradores e material comprado com verbas públicas que fazem parte de meu projeto de pesquisa.Gostaria que vocês repassassem este e-mail publicamente, fazendo dele uma declaração aberta. Faço dele também uma carta que pretendo enviar à Magnífica Reitora, responsabilizando-a diretamente por nossa segurança pessoal.Sem mais, agradeço novamente pelo apoio recebido de todos nesta hora em que a Universidade pela qual lutamos durante toda uma vida torna-se presa de fascistas sem caráter, e em que não temos uma reitoria com autoridade suficiente para restabelecer a ordem.Um grande abraço a todos,Elcio AbdallaProfessor TitularChefe do Departamento de Física-Matemática

Publicado pelo © 2007 MidiaSemMascara.org

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Educação familiar e criminalidade

(artigo publicado no jornal eletrônico MidiaSemMáscara)


RESUMO:

“O aterrador estado de anomia social, verdadeira guerra urbana, no qual fomos atirados pela proliferação indiscriminada da criminalidade, sempre tolerada, tornou-nos a todos reféns dos criminosos, cuja crueldade, antes impensável, é a cada dia superada por manifestações ainda mais estarrecedoras. O fenômeno é explicado na mídia ora pelas condições sociais de pobreza e carência de nossa população, ora pelas condições de fraqueza e insuficiência de nosso aparato judicial / repressivo. Embora a primeira dessas causas não tenha qualquer importância real no combate à criminalidade e a segunda delas seja limitada e ofereça um gigantesco entrave orçamentário para sua operacionalização, um terceiro aspecto sobejamente mais importante tem sido propositadamente negligenciado tanto pelos profissionais da imprensa quanto pelos intelectuais acadêmicos. Trata-se de, a pretexto de verdade científica, utilizar argumentos falsos para promover a decadência da educação familiar da criança e do adolescente, subtraindo aos pais os meios de influência e controle sobre o filho, inviabilizando ao infante assimilar como valores importantes a obediência à lei, a defesa da ordem, e o respeito ao bem comum e à verdade. Há fortes indícios de que grande parte dos profissionais de imprensa e intelectuais ativistas estejam estimulando a violência como ato revolucionário.”

O estado de anomia da sociedade brasileira

As atrocidades e o poderio do chamado crime organizado atingem níveis mais preocupantes, a cada dia. Já não se trata somente do tráfico de drogas, contrabando, roubo de carga e assalto a bancos. Assistimos a bandidagem ditar o que a sociedade deve fazer, onde e como pode a polícia atuar, quando o comércio pode abrir ou deve fechar. Os calibres 38 se tornaram obsoletos e os bandidos se apresentam armados de bazucas, metralhadoras e até mísseis. Os chefes se comportam como verdadeiros governadores de província, substituindo em tudo a autoridade dos poderes do estado.

Contudo, o crescimento da criminalidade já não se restringe aos habitantes dos morros e periferias; avança com extrema facilidade nas hostes das classes médias e entre famílias perfeitamente estruturadas. Superado o espanto inicial, já nos acostumamos a ver no noticiário os relatos de filhos matando pais e avós para obtenção de dinheiro, gangues de adolescentes arruaceiros pilhando, agredindo e matando os rivais, jovens bem postos ateando fogo em índios e mendigos, o fenômeno descrito como “bulling”, a drogadicção e toda a sorte de condutas anti-sociais etc etc.

Na busca das causas desse estado geral de anomia, duas correntes rivalizam na preferência dos profissionais da imprensa. A mais disseminada delas, de cunho eminentemente esquerdista, considera serem as condições sociais de pobreza e carência de nossa população, ou, usando sua terminologia preferida, as desigualdades, a causa da expansão da criminalidade. A corrente rival, menos defendida, de cunho liberal, considera serem as insuficiências/deficiências do nosso aparato judicial/repressivo o fator responsável pela escalada da criminalidade.

A causalidade sócio-econômica da criminalidade

Não se pode negar que as condições de pobreza e carência de nossa população sejam facilitadores do desvio para o crime. Contudo, os defensores dessa proposta encontram dificuldades insuperáveis quando confrontadas com o conhecimento e a razão. Primeiramente, há diferença qualitativa entre o crime não-violento ou secundariamente violento (cuja meta é a subtração de um bem que atenda a uma necessidade básica) e o crime deliberadamente violento (cuja meta transcende as necessidades básicas e se concentra na realização da própria violência). Pois bem, os crimes secundariamente violentos realmente declinam com o crescimento econômico (Freakonomics, Levitt e Dubner, Campus, 2005), mas o que se vê hoje não é que as pessoas estejam matando para comer ou alimentar seus filhos. É provável que esse romântico ato muito raramente ocorra. O bandido mata é para ter carrões, roupas legais, “mulheres”, dinheiro, drogas e, sobretudo, para exibir poder, através de atos cada vez mais violentos. Para esse tipo de crime, o desenvolvimento econômico e social pouco adianta. Outro obstáculo a essa proposta consiste no fato inexplicável de que países ainda mais pobres que o Brasil conseguem manter os níveis de criminalidade bem abaixo, como, por exemplo, Índia, China, entre outros. A comparação com o próprio Brasil de vinte, trinta anos atrás lhe é desfavorável. Naquela época não havia a chamada “rede de proteção social” que se tem hoje (bolsa-escola, bolsa-família, vale-gás, vale-leite etc.) e se podiam fazer passeios noturnos com relativa tranqüilidade nos bairros e periferias das grandes cidades brasileiras, ou seja, havia a fome (concreta e não a propaganda da fome de hoje) e não havia tanta insegurança. Ainda naquela época, Os Estados Unidos, país incomparavelmente mais rico e desenvolvido que o Brasil, apresentava índices de criminalidade muito superiores aos apresentados aqui.

Os propagandistas dessa posição, ou seja, a quase totalidade da mídia, se aproveitam de meios indiretos e psicológicos para inscrevê-la na mente das pessoas como verdade científica, provada e comprovada. Exemplo pedagógico dessa tática de colonização de almas é o programa Ação, da Rede Globo, patrocinado pela Petrobrás e apresentado por Serginho Grosman. Em nenhum momento se fala diretamente que o crime deve ser combatido pelo desenvolvimento social/econômico e não pela polícia. Mas é essa a mensagem fixada ao se apresentar o sucesso dos projetos sociais de várias ONGs, de como esses projetos conseguiram retirar tantas e quantas crianças e adolescentes do crime e das drogas e incluí-las em atividades comunitárias/culturais. É muito astuta a lógica desses projetos: contabilizam o sucesso daqueles pouquíssimos jovens que entraram e permaneceram nos seus quadros. Mas cabe a pergunta: E aqueles tantos que não entraram ou não permaneceram nos programas? Por que não o fizeram e o que estão agora fazendo? Esse insucesso não é, espertamente, contabilizado. Retirar do crime quem deseja dele sair (ou não deseja nele entrar) é uma questão de oportunidades sociais/comunitárias (as igrejas evangélicas sabem disso muitíssimo bem). Retirar do crime o criminoso ou aspirante convicto passa ao largo das oportunidades sociais. Ao final, esse conjunto de aspirantes e bandidos convictos continua crescendo, embora as ONGs dedicadas a reduzi-lo se multipliquem a cada dia.


O aparato judicial/ repressivo frágil como causa principal da criminalidade

A segunda corrente com alguma posição nos meios de comunicação (ainda que expressivamente inferior à primeira) afirma ser a impunidade, fruto de uma legislação condescendente e de um aparato judicial/repressivo frouxo, o principal estímulo e causa da disseminação da bandidagem.

O ser humano se comportar a partir de uma expectativa é verdade conhecida tanto das tradições populares quanto da pesquisa psicológica. A corrente psicológica denominada comportamentalismo, que fez e faz grande sucesso acadêmico, é, em essência, um tratado das várias combinações e possibilidades de controlar o comportamento pelas conseqüências. Daí que um sistema que promete punir, mas na prática não pune, acaba reforçando o comportamento criminoso. Os defensores dessa proposta, portanto, têm completa razão quando cobram um sistema punitivo (legislação, judiciário e polícia) mais eficiente. Uma mente dedicada ao crime só pode ser controlada pela certeza da punição.

Mas por que ainda não conseguimos disseminar essa certeza de punição a todos os bandidos e aspirantes ao comportamento criminoso, eficientemente?

Por uma questão de logística. Os recursos e meios para proteger a sociedade e fazer a punição dos criminosos devem ser amplamente superiores aos empregados pelos bandidos para praticar o crime e permanecer impunes. Contudo, no Brasil, o aparato legal/judicial/policial tem um crescimento aritmético enquanto há uma proliferação geométrica da criminalidade. A sociedade está sempre perdendo para o crime. Dentro em breve, nem a multiplicação dos orçamentos de segurança será suficiente para inibir o crime.

Podemos, agora, concluir que um sistema punitivo eficiente é bom controlador da criminalidade (a título de exemplo, basta verificar o quanto o crime de tráfico de drogas é irrisório nos países islâmicos), mas, por outro lado, o dispêndio de recursos para esse fim exigirá do estado brasileiro recursos de que não dispõe, enquanto houver a atual expansão de mentes delinqüentes.

Dessa forma, o problema se desloca para onde e como são criadas essas mentes criminosas? A resposta a essa questão nos leva ao problema da educação moderna, verdadeira fábrica de condutas anti-sociais. Para explicar esse ponto, recorro ao brilhante estudo de Levitt & Dubner, Freakonomics.

Levitt, estudou as causas da inesperada queda da criminalidade em Nova York e demais capitais americanas, a partir de meados dos anos 80, e chegou a conclusões inusitadas. Após descartar crescimento econômico-social e minimizar o efeito redutor do endurecimento da legislação e da ampliação dos recursos policiais, o autor se deteve na legalização do aborto, ocorrida em 1971. De fato, após a decisão da Corte Suprema, o número de abortos aumentou de 1 aborto para quatro nascimentos em 1971, para 1 aborto para 2,25 nascimentos em 1980.

O dado implica que cerca de 1,6 milhão de abortos passaram a ser praticados por ano nos Estados Unidos. Como esse dado se liga ao declínio da criminalidade? Ocorre que justamente quando esse contingente de crianças abortadas deveria estar alcançando a adolescência (a partir de 1985) iniciou-se o longo e inesperado período de queda da criminalidade: essas crianças que se tornariam criminosos na adolescência, foram abortadas, jogando os índices de criminalidade para baixo. Uma questão leva a outra: Por que as crianças abortadas se tornariam criminosas? Levitt responde a essa questão estudando o perfil das mulheres que praticam o aborto nos Estados Unidos. O perfil dessas mulheres compõe-se de três características: solteira, pobre, jovem. Dessas características decorrem certas condições: sozinha para educar o filho, precariedade de recursos para manter o filho e sem formação técnica ou profissional. Justamente as características das mães dos delinqüentes que engrossavam as estatísticas nos anos anteriores à liberação do aborto.

Mas por que uma mãe com essas características não consegue fazer uma educação de qualidade? Ou, especificando melhor a pergunta: que tipo de falha na educação pode induzir o jovem à criminalidade? Essa questão ficou fora do estudo de Levitt, mas o grande mérito do economista americano não foi propriamente propor o aborto como solução para a criminalidade, mas trazer o problema da criminalidade do campo exclusivamente policial ou econômico para o campo específico da educação familiar da criança. Para responder à questão levantada vamos fazer uma digressão pelas teorias psicológicas e psicopedagógicas modernas.


A moderna educação familiar da criança forja mentes criminosas

A educação escolar e familiar da criança sofreu grandes transformações a partir dos anos 60. Cansados de uma educação patriarcal, severa e autoritária, intelectuais com alguma dose de ressentimento e ânsia de mudanças, além de ativistas políticos, começaram a colocar em cena teorias tidas como libertárias e emancipadoras. Entre as várias teorias, uma importante abordagem se firmou, enquanto outras tiveram fôlego passageiro. A abordagem inovadora que se estabeleceu e acabou dominando a cena educacional e que atualmente influencia poderosamente toda a educação brasileira foi batizada de construtivismo. O construtivismo reuniu em sua formulação psicólogos e educadores importantes, como PIAGET, VYGOTSKY, EMÍLIA FERREIRO, entre outros.

Vamos nos deter um pouco em Piaget, o principal pesquisador do construtivismo, até hoje cânone dessa abordagem. O biólogo/psicólogo suíço estabeleceu como programa de pesquisa estudar como a inteligência se desenvolve no indivíduo (ontogênese), desde a inteligência prática do bebê até a idade adulta em que é alcançada a capacidade científica lógica-dedutiva.
Seguindo seu programa, Piaget entendeu que a inteligência se desenvolve através de mudanças estruturais que determinam a forma de assimilação do conhecimento por parte do sujeito. Assim, uma criança que esteja no estágio pré-operacional está limitada às estruturas desse estágio e não poderá assimilar conhecimentos que exijam estruturas mais evoluídas, como as operações concretas e as operações formais. Por outro lado, a construção dessas estruturas cognitivas está sob controle do organismo e não pode de forma alguma ser modificadas de “fora para dentro”. Por essa razão, no contexto educacional, os mestres devem se comportar como facilitadores, abstendo-se de querer ensinar aquilo que a criança não está estruturada para assimilar. Devem aguardar, pacientemente, que a criança “construa” as novas estruturas.
Posteriormente, o mesmo esquema do desenvolvimento cognitivo foi aplicado ao desenvolvimento moral. Especialmente o desenvolvimento moral deveria ser compreendido a partir de estruturas internas que ditarão o sentido do certo e do errado. Adequar a criança aos padrões normativos da sociedade (heteronomia moral) deve ser completamente descartado. Para o construtivismo, o direcionamento pedagógico se equivale à coação intelectual e direcionamento ético se equivale à coação moral. Afirma Piaget: “a coação moral é parente próxima da coação intelectual” (Juízo Moral da Criança, São Paulo, Summus, 1994).
Piaget se posicionou frontalmente contra o chamado realismo moral, contra qualquer fonte externa de padrão moral e em última análise contra a obediência do filho ao pai, pois: “no realismo moral...o bem se define pela obediência”. (Juízo Moral da Criança, São Paulo, Summus, 1994).
Nesse quadro, as noções de certo e errado são inteiramente relativizadas: “o construtivismo de Piaget encaminha-nos para uma posição em que o erro, como oposição ao acerto, deve ser revisto ou interpretado de outro modo... Aquilo que é errado em um contexto, pode estar certo em outro” (Lino de Macedo, Ensaios Construtivistas, São Paulo, Casa do Psicólogo, 1994).
Coerentemente com o relativismo, ações que tradicionalmente têm uma valência moral são redefinidas de modo a perder qualquer possibilidade de serem más em si mesmas e, portanto, merecedoras de repreensão, como nos exemplos a seguir, extraídos de um texto do filósofo construtivista Henrique Nielse Neto (Filosofia da Educação):
- agressividade: conduta demonstrada quando existe frustração, quando as aspirações da vida não são realizadas, quando os desejos fracassam;
- violência: comportamento presente quando a frustração vai além do que o indivíduo pode suportar.
Ao considerar que a violência seja uma força que atua no sujeito quebrando sua vontade que na origem é límpida, não fossem as aspirações frustradas por algum agente nocivo, não há como punir o sujeito que pratica tal violência, restando àqueles que estão à sua volta aceitar como legítima a violência praticada.
Assim, os comportamentos de controle, exigência de desempenho, exigência de limites, exposição à frustração, respeito à diferença entre o certo e o errado, punição dos comportamentos inadequados, entre outros, passaram a ser condenados como politicamente incorretos e produtores de traumas ou sofrimentos à criança. O vocábulo “controle” tornou-se palavrão impronunciável. Desenvolveu-se uma verdadeira paranóia educacional à possibilidade de causar algum trauma à criança.

Por outro lado, não sabendo como controlar o filho, ao perceberem a iminência da perda de seu controle, os pais lançam mão de recursos repressivos que, por inexperiência de manejo, não logram êxito e reforçam um sentimento de culpa que irá inibir outras tentativas de controle, num processo cíclico que acaba por tornar a criança inábil para os enfrentamentos naturais da existência humana e especialmente frágil perante as frustrações. Seguindo a orientação construtivista, essas crianças associam automaticamente frustração a agressividade e agressividade a violência. A educação, que deveria quebrar esses elos primitivos, passa a reforçá-los. É curioso como tantos e tão qualificados profissionais não puderam perceber, por tão longo tempo, o fato óbvio, conhecido de longa tradição, que não se pode educar uma criança sem frustrá-la...

Alcançando a adolescência, não tendo os pais os recursos para todos os objetos desejados pelo jovem, tais como prestígio entre os colegas, amizades, namorado (a), sentido de competência pessoal, ou mesmo bens materiais, o adolescente se rebela e se torna presa fácil da delinqüência, depressão, indolência e drogadicção, afinal, foi lançado em um mundo para o qual não foi definitivamente preparado. A vida se torna “um vale de lágrimas”, no dizer de Santo Agostinho, contra o qual reagirá violentamente.

Podemos agora, respondendo à questão formulada logo acima sobre as incapacidades educacionais das mães dos delinqüentes, afirmar que o ponto da educação que, quando falha, predispõe o jovem à delinqüência é o desenvolvimento de esquemas de disciplina, obediência e controle. Por essa razão os filhos das mães jovens, solteiras e pobres se encontram na faixa de maior risco, nos Estados Unidos. Uma mãe, jovem, solitária e pobre, via-de-regra, encontrará muito mais dificuldades em controlar o filho, desde as pequenas desobediências e birras da criança pequena até os comportamentos mais agressivos da adolescência, resultando, ao final, em uma personalidade frágil às frustrações e tentada a repetir no plano social o que aprendera no plano familiar: desconsiderar e agredir.

Contudo, em um país como o Brasil, em cujas famílias a figura da mãe sempre foi a de maior lastro, o risco da delinqüência não é exclusivo dos filhos das mães jovens, solteiras e pobres. Distribui-se por toda a sociedade, bastando que os pais (solteiros ou casados) não tenham conseguido preparar o filho para as frustrações da vida e para a disciplina. Nos Estados Unidos, o fracasso educacional ocorre por incapacidade de um seguimento social (mãe jovem, pobre e sem profissão), no Brasil, o fracasso ocorre pela orientação educacional equivocada. Por essa razão pode-se afirmar com conseqüência: a educação moderna, marcada pela abordagem construtivista, especialmente no Brasil, destrói pela raiz a capacidade dos pais controlarem seus filhos, abrindo a esses as comportas da criminalidade.

Conclusão

Assim, fica demonstrado que: 1) pouco vale o crescimento econômico para a redução da criminalidade; 2) a ampliação da capacidade judicial/policial é útil e necessária, mas, sozinha, é incapaz de vencer os contingentes de bandidos produzidos em série a cada ano; 3) Somente uma educação que prepare efetivamente a criança e o adolescente para uma vida civilizada, com noções claras de direitos e deveres, disciplina e resistência à frustração poderá conter a criminalidade, consistentemente.

É curioso, senão sintomático, que a questão da falência da educação familiar da criança muito raramente seja associada à criminalidade pela imprensa brasileira. Penso que, em alguns casos haja desconhecimento puro e simples; em outros ingenuidade; mas que, na maioria das situações, seja proposital. Importante observar que há um crescente movimento político que, aproveitando-se das teorias construtivistas, busca alterar diretamente o modelo de gestão da educação familiar da criança. A ênfase consiste em transferir progressivamente a autonomia, tanto operacional quanto legal, da família para agências sociais no controle da educação da criança e do adolescente. A título de ilustração, lembramos a moda politicamente correta (que está prestes a tornar-se lei) de proibir aos pais aplicarem quaisquer castigos físicos aos filhos, desde o mais elementar “castigo de cadeirinha” até a simples “palmada pedagógica”. É óbvio que, no limite, se busca esvaziar a família de sua dimensão controladora da educação moral da criança e corromper toda a juventude. Vejo aí fortes indícios de que grande parte dos profissionais de imprensa e intelectuais ativistas estejam estimulando a violência como ato revolucionário.

sábado, 26 de maio de 2007

CARTA AO CRP SOBRE MAIORIDADE PENAL

Ao Editor do periódico “Espaço PSI”
Prezado (a) Senhor (a),
Ao ler o periódico nº. 42 de abril/2007, deparei-me com a afirmação: “o CRP-09 não apóia as discussões sobre a redução da maioridade penal” (seção Legislação, artigo: “Redução da maioridade penal: a discussão deve ser outra”). É no mínimo curioso, o Órgão de Classe dos psicólogos não aceitar discutir um tema tão importante e tão premente no Brasil de hoje.
Para fechar a questão dessa forma, seria necessário que se tivesse plena certeza (certeza científica e baseada em dados objetivos) de que a redução da maioridade é inócua ou mesmo prejudicial ao combate ao crime. A pergunta que não cala é: temos essa certeza? Como podemos tê-la se nos recusamos a discutir o assunto?
Só para adiantar alguns dados (sem jamais fechar questão), poderíamos verificar como a coisa se passa no resto do mundo:
IDADE DA MAIORIDADE PENAL EM ALGUNS PAÍSES DO MUNDO
Sem idade mínima: Luxemburgo.
7 anos: Austrália e Irlanda.
10 anos: Nova Zelândia e Grã-Bretanha.
12 anos Canadá, Espanha, Israel, Holanda.
14 anos: Alemanha, Japão.
15 anos: Finlândia, Suécia, Dinamarca.
16 anos: Bélgica, Chile, Portugal.

Cuba, que muitas vezes é apontada como país avançado socialmente, estabelece a maioridade penal aos 16 anos para crime comum e libera a idade mínima para crimes políticos.
Uma alegação falaciosa é dizer que a redução da maioridade penal não RESOLVE o problema da criminalidade crescente. Ora, nenhuma medida isolada poderá resolver o problema da criminalidade. Cada medida proposta deve agir em determinadas situações e coibir determinados crimes. Assim, podemos considerar que o desenvolvimento econômico e o pleno emprego são medidas de caráter preventivo. Mas a prevenção é medida antecipatória ao crime e nada pode fazer quando o indivíduo já é criminoso. Aí, a sociedade precisa de medidas repressivas para se proteger, ou teremos de aguardar passivamente que os criminosos cresçam, envelheçam e morram? Além do quê, o automatismo mental que propõe que pobreza gera crime não corresponde à realidade, pois países ricos têm leis severas (como mostradas no quadro acima) porque têm criminosos e deseja coibi-los e países muito mais pobres que o Brasil, como Índia e China, com populações muito maiores que a brasileira têm índices de criminalidade muito menores.
Por fim, uma questão que só pode ser estudada e resolvida por psicólogos (as informações acima provém das ciências sociais): sentir-se responsável pelos seus atos torna o indivíduo mais conseqüente e autocontrolado? Se assim for, privando o adolescente de sua responsabilidade, não o estaríamos privando de sua autonomia? E não seria nossa missão profissional buscar o máximo desenvolvimento dos potenciais de cada pessoa que nos procura?
Uma última consideração: o apelo emocional que coloca o homem como aquele ser horrendo que aprisiona seus filhos sem educá-los em oposição ao restante da natureza que protege seus filhotes é falsa e pueril. A águia atira seus filhotes do alto dos penhascos, os que não desenvolvem a aprendizagem do vôo simultaneamente à queda, morrem no choque com o solo (40%); vários bichos comem seus filhotes em situação de falta de alimento e os próprios silvículas (nas tribos não cristianizadas) eliminavam seus bebês defeituosos (eugenia natura?). Os gregos, que nos deram a filosofia, afirmavam que o primeiro fundamento do estado (polis) é a garantia da integridade física dos cidadãos. Isto porque temiam que os indivíduos deixados ao sabor de seus impulsos conduziriam a civilização de volta à barbárie, ou próxima disso. A sociedade se proteger dos agentes agressores configura, pois, a defesa mesma da civilização e não o contrário.
Por tudo isso, considero necessário discutir, sim, a redução da maioridade penal. Desapegados da paixão ideológica, mas apaixonados pela verdade!

Atenciosamente,
EDSON MOREIRA BORGES
CRP-2091-0