terça-feira, 17 de maio de 2011

O DESENVOLVIMENTO DE UMA PSICOSE ASSASSINA

Caro Leitor,

Em relação à chacina dos estudantes de Realengo pelo assassino Wellington, faço as seguintes ponderações sobre a doença mental da qual era portador, do ponto-de-vista de sua estrita evolução psicológica, a partir de informações sobre seu comportamento, infância e adolescência publicados na imprensa.

O mundo protegido da infância.

Normalmente, na infância, somos paparicados e protegidos pelos nossos pais ou sucedâneos. Não temos grandes responsabilidades, a vida é uma procura incessante por diversões (um pouco quebrada pelas obrigações escolares) e o mais importante: temos o amor da única mulher que nos importa: a mãe! Se queremos um beijinho, a mamãe ali está; se queremos cafuné, idem; se queremos atenção, basta um chilique ou uma birrinha e lá vem a mamãe a nos acudir. Até onde as informações disponíveis apontam, esta foi, também, a infância do atirador (parece, até que com ele os mimos maternos foram ainda maiores, apesar de adotado).

O mundo de conflito e luta da adolescência.

Na adolescência, contudo, nada é fácil. Já não nos satisfaz termos o amor incondicional da mãe e o espaço de casa se torna monótono. Queremos o beijo da menina bonita e ser vencedores no grupo de amigos e nas lides sociais. Ocorre, nesse momento, toda a sorte de atribulações, temores e terrores! A rejeição da menina bonita e o fracasso na patota constituem verdadeiras fontes de angústia e frustração. Todos passamos por essa tormenta, mas cada um reage diferentemente e, por isso, constrói um destino diferente.

As conseqüências para os não esquizofrênicos.

O jovem sem base genética para esquizofrenia reage de forma variada aos conflitos e frustrações da adolescência. Compõe um espectro que vai desde uma pequena irritação ou depressão leve até o transtorno de conduta ou depressão grave.

Nos casos felizes, a frustração e decepção vão dando lugar a uma reorganização do ego, mais em acordo com a realidade, ou seja, o adolescente constrói uma visão clara e realista de suas possibilidades. “Se não sou bom nisso, posso ser bom naquilo, se esta não me quer, aquela pode me querer”; e assim, vai aprendendo a temperar as frustrações com possibilidades de sucesso e recuperação. Uma perda já não tem mais aquele caráter catastrófico e definitivo que tinha. O medo fica sob controle e a esperança prevalece.

Nos casos mais difíceis, a frustração e decepção empurram o sujeito ora para o retraimento, ora para os comportamentos antissociais. Na primeira situação, pode se tornar tímido, retraído e até mesmo portador de uma depressão grave e duradoura. Na outra situação, torna-se um pequeno delinqüente ou até mesmo um perigoso bandido.

É necessário acrescentar que seja no caso dos retraídos, seja no caso dos antissociais, não é raro o envolvimento com toda a sorte de drogas, pelo seu efeito de eliminação mágica da dor, da frustração e do fracasso.

As conseqüências para os esquizofrênicos.

Contudo, quando há base genética para a esquizofrenia, esse momento de enorme turbulência, que é a adolescência, se torna mesmo insuportável e o indivíduo vai temperando suas frustrações não mais com a esperança de compensar as perdas com possibilidades reais de vitórias (“ se essa não me quer, aquela pode me querer etc...”), mas com o desligamento da realidade. No tipo paranóide, a realidade impositiva, vai sendo temperada por um fantasiar desconecto da realidade (sem nexo evolutivo com o real). Nesse mundo fantasioso (a princípio sob controle, mas logo depois incontrolável) o doente vai construindo o que lhe falta na realidade. Se se sente humilhado no real, passa a ser altivo no delirante; se se sente fraco no real, passa a ser forte no delirante; se se sente desprezado no real, foca o desprezo nos outros no mundo de seus delírios etc. Com o passar do tempo, o delírio vai se estruturando e alcançando mais coerência interna até chegar o ponto em que todos os eventos objetivos são julgados a partir desse núcleo central: eu sou bom e heróico, os outros são maus e covardes! Já acreditando em sua força-fantasia, o sujeito começa a elaborar os devaneios de vingança, sempre com base em seu conceito próprio de justiça: “todos que me desprezaram são maus e têm que pagar”.

Nem sempre os paranóicos se tornam assassinos, mas essa é sempre uma possibilidade nada escassa! Foi esse o caminho tomado pelo atirador do realengo: um homem cuja auto-decepção foi tão insuportável para sua frágil e esquizofrênica estrutura que acabou por gerar um ego vingador até as últimas conseqüências.

A questão das armas.

O crime perpetrado não pode ser “lido” como efeito do uso de armas por civis. Primeiro porque as armas eram ilegais, segundo porque se não houvesse armas de fogo, o assassino, poderia ter usado facas, bombas ou mesmo um automóvel contra um ponto-de-ônibus!

A questão do bulling.

Muito valorizada a questão do bulling no ocorrido no Realengo, deve, contudo ser relativizada, por uma razão muito simples: quase todos os adolescentes e crianças foram em algum momento da vida alvo de crítica, zombaria e exclusão dos grupos influentes, sem terem se tornado, por isso, assassinos. O bulling não produz tamanho estrago, mas, atenção!, a cultura justificadora que proporciona o bulling pode vir a ser a fomentadora midiática a induzir ações agressivas.

Uma palavra sobre educação.

Nesse momento, cabe concluir. O melhor que os pais podem fazer para a saúde mental de seus filhos é ajudá-los a enfrentar a vida como ela é: dura, repleta de frustrações, mas que pode ser muito divertida e encantadora para quem lida bem com suas limitações pessoais.

Um comentário:

Anônimo disse...

Dr Edson Moreira
olá Tenho 16 anos e sou um grande fã do senhor pelo trabalho que o senhor tem Realizado no DHPP .
E tambem pretendo me forma bacharel em direito um dia e quem sabe ser 20 % do que o senhor e para a sociedade !!