sábado, 21 de março de 2015

AFINAL, SÓ PODEMOS EXIGIR DE NOSSOS GOVERNANTES AS QUALIDADES QUE TEMOS? OU: DE COMO ISENTAR A CORRUPÇÃO DO GOVERNANTE EM RAZÃO DA FRAQUEZA DO GOVERNADO!


Ai, ai, ai. Me chegou às mãos um texto supostamente de João Ubaldo Ribeiro (talvez, o maior escritor brasileiro surgido na segunda metade do século XX) no qual o romancista de “Viva o Povo Brasileiro” desenrola um carretel de censuras às pessoas (no texto, cada um dos brasileiros) que desejam o impeachment da presidente DILMA, por não antes corrigirem seus próprios pequenos pecados e espertezas da vida cotidiana (aumentar o valor da diária na nota fiscal pra roubar o patrão; “molhar a mão” do policial para não pagar a multa; fazer “gato” de tv a cabo; colar na prova etc). No texto, João Ubaldo faz um chamamento à responsabilidade que cada um deve ter e assumir no seu relacionamento com a sociedade. O texto não deixa dúvidas: cada um é responsável por uma parte do “desmoronamento moral da nação”.
Nisso, João Ubaldo está correto, corretíssimo. Não acredito que possa haver crescimento pessoal e desenvolvimento de uma nação sem que haja a ampliação da consciência e responsabilidade individuais.
Contudo, é preciso avaliar em que medida a responsabilidade do cidadão comum difere da responsabilidade do governante, pois é certo que iguais não são, caso contrário, qualquer pessoa poderia ser o presidente da república, mas só uma, apenas uma, é.
Inicio pela diferença mais visível e abrangente: o fator quantitativo! É evidente que uma mentira trivial de um homem comum afeta alguns poucos que o cercam, mas a mentira de um Presidente da República afeta toda uma nação. Daí, a evidente maior gravidade, do ponto-de-vista político, da mentira do presidente em relação à mentira do homem comum. Tem-se, portanto, que qualquer desvio do governante é de gravidade elevada à decima potência em relação aos desvios do homem comum. Talvez seja essa a razão de nas nações mais desenvolvidas e de maior tradição democrática, (EUA, Europa, Japão, entre outras) terem as pessoas um cuidado muito seletivo com a vida privada do candidato. Eles querem, para governá-los, pessoas melhores que eles mesmos; mais capazes, sobretudo, de resistir às tentações da transgressão. Aqui já se observa um desnível nas exigências morais do governante e das pessoas comuns. Já se vê o prenúncio da busca de uma elite, não econômica, mas moral para gerir as coisas do estado.
Um outro aspecto a diferir a responsabilidade do homem comum da responsabilidade do governante, ainda mais importante é o fator qualitativo. Sempre, na história universal, foram as elites políticas que guiaram os rumos das nações. O homem comum enquadra suas condutas no panorama moral construído por suas elites, ainda que de modo inconsciente. Há, no homem comum, uma complexa dinâmica de justificações morais internas, de si pra si, cuja régua objetiva é o imaginário construído pela elite governante. Quanto mais elástica e frouxa for essa régua imaginária, maior será a tendência à justificação e repetição das transgressões individuais. Nesse ponto já se percebe o abismo que separa a gravidade dos desvios do homem comum daqueles cometidos pelo governante.
É por razões dessa ordem que os povos sempre buscaram os melhores para exercerem esse papel político. Mesmo nas tribos indígenas, onde não há estado, mas há política, os líderes são sempre escolhidos entre os mais fortes, bravos, corajosos e mais capazes. Buscar os melhores para ocupar o poder político sempre foi a norma das civilizações.
Ocorrem, contudo, exceções. Há situações anormais em que a sociedade, de tão adoecida, passa a buscar não mais os melhores, não mais os mais capazes de enfrentar os problemas, mas aqueles que melhor camuflam a realidade, aqueles que melhor passam uma ideia de segurança passiva (“ele vai resolver nossos problemas”). No final, o que se tem é uma elite de segunda classe, mais preparada para a dissimulação e disfarce do que para o enfrentamento dos problemas reais. Nem é preciso dizer que, nessas situações, os problemas só aumentam levando ao aumento do disfarce até que a pantomima do governante não mais se sustente e o modelo todo venha abaixo e seja substituído por uma nova elite, dessa vez mais preparada que a anterior. O processo todo, não é rápido e pode levar duas, três, quatro gerações até que a patologia social que lhe deu origem seja debelada.
É essa mesma a situação pela qual passa o Brasil na presente quadra. Temos uma patologia social, o esquerdismo, profundamente introduzido no funcionamento mental das pessoas; e temos uma elite esquerdista despreparada para o enfrentamento dos problemas reais, moral e tecnicamente, mas adestrada no embuste, engodo e dissimulação. Agora, estamos diante de uma crise moral e econômica e a pantomima do governante já não mais se sustenta. Uma nova elite, mais decente e mais competente deverá assumir o protagonismo político, caso a patologia social do esquerdismo já tenha sido debelada, ou no caso contrário, vamos continuar com governantes despreparados para o enfrentamento dos problemas reais, concretos. Quando o povo elege o Tiririca o deputado federal mais bem votado do país está já revelando sua incapacidade de buscar os melhores, aí passa a buscar o que melhor se identifique com suas fraquezas e limitações.
Concluo dizendo que não é verdade que “todo povo tem o governo que merece”, mas que todo povo busca governantes melhores que o próprio povo e que o povo que busca governantes de seu mesmo calibre moral já é um povo doente! As causas da patologia social que acometeu o Brasil é tema para um próximo post.
Foto de Moreira Fernandes.

Nenhum comentário: